Page 38 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros

              uma ruptura do social e, por isso, é preciso restaurar,
              através dos rituais públicos e familiares, os antigos enla-
              ces (BORGES, 2002).
                    Ainda segundo Canella (1984) são quatro os mo-
              delos de cemitérios que perpassam essas duas metáfo-
              ras: o agrário, o monumental, o urbano e o industrial.
              O primeiro é um cemitério mais rústico, instaurado no
              meio de uma natureza pura; o segundo dá à morte um
              caráter heroico; o terceiro integra vivência institucional
              e social da cidade ao cemitério que, muitas vezes, se
              avizinha do mercado; e o quarto é a necrópole funcio-
              nal e comunitária da grande cidade. Por restrições me-
              todológicas aqui não detalharemos esses diferentes pa-
              radigmas funerários.
                    O tema ‘morte’ é realmente muito rico na cultura
              popular. Os sitiantes de Laranjeiras em Itapecerica da Ser-
              ra, São Paulo, à época da pesquisa de Lia Garcia Fukui
              (1983), cultivavam milho, feijão e mandioca e tinham uma
              pequena criação de gado em sítios afastados. Viviam sob
              uma economia de subsistência e frequentavam uma série
              de festas religiosas, dentre elas a Semana Santa, que ti-
              nha, na noite da Sexta Feira da Paixão, o culto aos mor-
              tos, exatamente anterior ao Sábado de Aleluia (dia da res-
              surreição de Cristo, segundo a tradição cristã). Nesse cul-
              to, não há padres. Os fiéis seguem em silêncio os rezado-
              res em ruas escuras, sem lanternas. Diante de uma cruz,
              homens e mulheres, de joelhos ou de cócoras, celebram a
              Recomendação das Almas:

                       Diz o capelão:
                       Vamos rezar um padre-nosso e ave-maria
                       Para a sagrada morte e paixão
                       Do defunto Padre Artur
                       Respondem todos cantando:
                       Seja pelo amor de Deus
                       Seja pelo amor de Deus (FUKUI, 1983).

                    Intercalam-se nomes diferentes em cada uma das
              orações, as quais são seguidas de um Pai-Nosso e uma Ave-

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