Page 40 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
P. 40

Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros

              pudesse ouvir em destom, o que aumentava o tom lú-
              gubre. A principal reza era:

                       Vai irmão, tão bunitim!
                       Vai vivê na Glória de Deus Pai.
                       Vai irmão, vai irmãozim,
                       que Jesus perdoe seus pecados
                       que morreu sem deles arrepender.
                       Vai, meu irmão,
                       vivê no lugar sagrado,
                       livre de todas as dores,
                       livre de todos os males.
                       Louvado seja Jesus
                       que foi pregado na cruz.
                       Uma incelença a Nosso Senhor,
                       uma incelença à Mãe de Jesus
                       que receba este pecador
                       Uma paliana à Nossa Senhora,
                       que tenha pena desse pecador
                       Vai irmão, tão bunitim!....

                    O trajeto até o cemitério era feito a pé e, caso o peso
              do caixão se tornasse demasiado, a solução era dar uma
              surra de cipó verde tirado do caminho no caixão pelo lado
              dos pés. Pela tradição, essa prática de surrar o caixão e pro-
              ferir palavras durante o ato somente era necessária quando
              o falecido estava ‘pesado’ pela conduta em vida, pelas mal-
              dades e injustiças. Além disso, era uma maneira de espan-
              tar o demônio, que também acompanhava o féretro .
                    Segundo a mesma autora, havia o ‘Ajudador da Mor-
              te’ que, por algum motivo, tinha apenas um ‘cotoco’ de uma
              das pernas. Recorria-se à sua ajuda quando o moribundo
              se encontrava em fase terminal, morria e retornava à vida
              em seguidas vezes. Essa alternância de estágios era chama-
              da de ‘Termo’, que também punha limite a essas idas e vin-
              das, tendo o moribundo apenas três chances para fazê-lo.
              Quando ultrapassava esse limite, o João Ajudador era cha-
              mado e, apoiando seu ‘cotoco’ de perna no peito do cristão,
              cumpria seu dever de ‘encaminhá-lo’. Para os moradores e
              mesmo para o Ajudador de Morte essa era uma prática
              normal. A Morte se tornou ato rotineiro.
                    Hermes de Paula (1957, p.25) também recolheu recor-


           40
   35   36   37   38   39   40   41   42   43   44   45