Page 35 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
é uma maneira propícia de compreender como o social é
arquitetado e estruturado.
Na fronteira da morte
Expressões como ‘morremos todos’ ou ainda ‘a única
coisa que sabemos é que morreremos’ constituem fórmulas
que denotam um sentimento de resignação ao destino de
todo ser humano. Para Ariès (1989), esse é um dos modos
mais antigos de encarar a morte. Já nos tempos medievais,
cavaleiros e monges conheciam o seu fim antes de sua efe-
tivação e mesmo Dom Quixote, em seus devaneios, tam-
bém o percebeu previamente. Contudo, cabe um questio-
namento: qual a necessidade de se afirmar o conhecimento
do fim trágico? Talvez a resposta resida no fato de que seja
preciso domar a morte a fim de que se torne menos árdua e
se tomem as devidas providências para que tudo ocorra de
maneira adequada nos últimos momentos.
Essa borderline nos faz lembrar que, por ocasião dos
levantamentos para a elaboração dos Estudos de Impacto
Ambiental (EIA) da Mineração Barro Alto, em Goiás, ti-
vemos a oportunidade de levantar algumas considerações
populares em relação à morte. Consta que no caso de al-
guém ser picado por ‘Cabo Verde’ (o cascavel macho), se
o ofendido fosse homem, a morte era certa e, caso contrá-
rio, escaparia. A origem desse mito é desconhecida, mas
importante frisar a questão do cruzamento de gêneros.
Induzido pela sexualidade ou por inspiração no mito de
Adão e Eva, na sedução? Condenado assim a perder a
vida, ao ofendido restava aguardar seu fim, mesmo que
houvesse algumas tentativas de driblar a morte. A prática
era impedir sua entrada na casa, colocando o leito do
moribundo atravessado na porta de acesso à rua. Esse
costume também já foi observado no Vale do Jequitinho-
nha, em Minas Gerais, especialmente na zona rural.
Outras práticas ligadas ao morrer podem ser en-
contradas nesse universo da cultura popular, sendo
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