Page 37 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros

                         Ritos
                         Até o século XVIII, era bastante comum a prática de
                    sepultamento em igrejas, mas com o advento de preocu-
                    pações higiênicas, bem como do crescimento das cidades,
                    fundaram-se os cemitérios urbanos. A retirada dos corpos
                    dos mortos das igrejas fez com que se secularizassem e
                    tornassem públicos os rituais funerários, fato que, inicial-
                    mente, desagradou as autoridades eclesiásticas. Outro
                    ponto importante diz respeito à localização dos cemitérios
                    seculares. A fim de se evitarem doenças e diminuírem-se as
                    epidemias, as necrópoles, a partir dos oitocentos, foram afas-
                    tadas dos centros das grandes cidades e ocuparam as regi-
                    ões periféricas. Por fim, cabe salientar que o ato de afastar
                    o cemitério das igrejas não é o mesmo que torná-lo não
                    religioso. Pelo contrário, sendo público, o cemitério pôde
                    abarcar tanto questões referentes à religiosidade popu-
                    lar quanto a instituições culturais. Assim, as ‘casas dos
                    mortos’ fazem

                            [...] parte da invenção moderna, compartilha da reestruturação da
                            sociedade que, de agora em diante, trabalha com o confronto dia-
                            lético de duas realidades conceituais de vida: a cidade dos mortos e
                            a cidade dos vivos. Com referência à cidade dos vivos, a burguesia
                            preocupou-se com novos modelos gerais de urbanização e com
                            novas tipologias de serviços, como residências, escolas, teatros,
                            hospedarias e fábricas. As construções, numa primeira instância,
                            visavam ao bem-estar coletivo e ao progresso, advindos da Revolu-
                            ção Industrial. Quanto à cidade dos mortos, a burguesia sentiu-se
                            no direito de construir uma arquitetura funerária que expressasse
                            seu gosto e suas pequenas fantasias. Repropôs, em miniatura, os
                            tipos arquitetônicos da cidade ideal, construída de castelos, cate-
                            drais, templos e palácios suntuosos (BORGES, 2002, p.130).

                         Para Canella (1984, citado por BORGES 2002), nos
                    modernos cemitérios existem duas metáforas que acom-
                    panham as imagens da morte: uma que remete ao mun-
                    do agrário, ou seja, a que põe a terra como mãe e que faz
                    das ações de procriação e das estações períodos biológi-
                    cos – a morte faz parte de uma etapa da vida, é o mo-
                    mento do repouso, do sono, e outra que afirma certa con-
                    tinuidade entre vida e morte, sendo que esta é vista como

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