Page 36 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros

              exemplo a varrição da casa após a saída do féretro, sem-
              pre de dentro para fora, eliminando qualquer resíduo da
              condição de não vida.
                    Nesse sentido podem ser citados, também, compor-
              tamentos durante a Semana Santa, em que se relembra o
              sofrimento e o velório de Cristo. Por dois milênios, havia
              uma transposição de sentimentos vivificados. Alguns in-
              terditos permeavam nossos atos, como, por exemplo, as
              mulheres de nome ‘Maria’ não podiam pentear seus cabe-
              los, eram indicados os jejuns, a beberagem de ervas amar-
              gas, as imagens de santos envolvidas em mantos roxos, as
              conversas necessárias em tom baixo e o impedimento de
              realizar transações comerciais. O luto era mais socializa-
              do: poderia ser fechado, com uso de vestimenta negra, ou
              mais leve, predominando cores sóbrias. Nas camisas dos
              homens apenas uma tarja, que poderia aparecer, também,
              junto ao bolso ou na manga de camisa, e estampado de
              negro e branco para as mulheres.
                    Em Portugal, é comum o uso de joias destinadas à
              reiteração do luto além de sisudas vestes. Em sua origem, o
              luto serve para avisar que o utente está em contato e conta-
              minado pela energia da morte. Em outras religiões espalha-
              das pelo mundo, o luto é e foi encarado de várias formas. Na
              Índia, antes da proibição pelos ingleses, havia a prática do
              Sati (ou Sutiie), ou seja, a mulher, ao enviuvar, atirava-se à
              fogueira onde eram queimados os restos mortais do marido.
              Seguindo a tradição, o procedimento era necessário pois fi-
              caria abandonada e ninguém a manteria.
                    É inevitável nossa constante ligação com nossos
              mortos, pois, além da saudade e da dor pela ausência, há
              rituais post-mortem, como a missa do sétimo dia que, se-
              gundo algumas religiões, é o período em que o falecido
              toma consciência de sua morte. Missas de 30º dia, 1º ani-
              versário de morte, centenários e dia de finados constitu-
              em especificidades para o reatar de vínculos.



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