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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
          xina, Francisco, Levy, Iracy, Raul, Rubens, Zelândia e Zélia. Francisco
          era o famoso Cica Peres. Raul, é o doutor Raul Peres, agora chegando
          aos 104.
               Foi  criada  pertinho  do  Largo  de  Cima,  conhecedora  per-
          feita da Praça Doutor Carlos, ouvinte de todo o barulho de ferei-
          ros  e  de  animais  amarrados  em  moirões  e  palmeiras.  Foi  sem-
          pre uma alegria de menina que vivia entre canteiros de flores e
          hortas  de  alface,  brincadeiras  de  quintal  e  de  rua,  com  estórias
          dos mais velhos no escurecer da boquinha da noite, assentados
          na calçada. O tempo corria lento, marcado pela posição do sol
          e pelo sino do relógio da torre do mercado, um batido musical para
          cada meia hora e tantas e tantas pancadas coerentes com o número do
          mostrador; meio-dia e meia-noite, claro com doze lindas sonoridades.
          O que não era poeira do chão, era boniteza colorida dos pequis, dos
          cachos de banana, dos sacos de laranja, dos bacuparis e das pitangas,
          das carnes penduradas e cheirosas pingando gordura. Tudo, tudo en-
          tre a realidade e os sonhos.
               Agora Dona Yvonne – assim eu a sempre tratei mesmo como
          colega de faculdade - vive seu centenário e faz a vida se transformar
          em obra de arte. Sempre parecendo que saiu do banho, cabelo arru-
          mado, perfume de mãos que oferecem flores, seu olhar é de quem ama
          mais do que tudo a existência. Em Yvonne Silveira, nada mais condi-
          zente que as palavras de Emmanuel construídas no sonho e concreti-
          zadas no amor: “Duas asas conduzirão o espírito humano à presença
          de Deus: uma chama-se AMOR, a outra, SABEDORIA. Pelo amor,
          que, acima de tudo, é serviço aos semelhantes, a criatura se ilumina
          e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de
          suas próprias virtudes; e, pela sabedoria, que começa na aquisição do
          conhecimento, recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso,
          que lhe comunicam os reflexos da própria grandeza, impelindo -a
          para o Alto”.

               O Curso de Letras, o primeiro em nível superior em Montes
          Claros, teve início no Colégio Imaculada Conceição, em 1963, teve
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