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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
mos horas entretidas com aquelas memórias saborosas. Minha mãe
sempre acrescentando detalhes lembrados por ela. Foi assim, graças a
Tia Ruth, que surgiu em mim a vontade de escrever sobre as memó-
rias da minha mãe no seu tempo de menina na Rua de Baixo. –“Ruth
era mais ligada a Aracy do que a mim, pela idade. Ela morou lá em
casa, sabia? Para estudar. Os pais estavam morando onde não havia
escola...” –“Espere aí, mamãe. Vou pegar caderno e caneta. Vamos
fazer um livro!” O livro tornou-se realidade graças ao primo Fabiano
de Paula que, sonhou comigo o mesmo sonho. Encontrou novos par-
ceiros e escritores... inclusive a tia Ruth. Foi na sua sala inglesa (aquele
recanto ficaria bem no condado de East Sussex ou Glouscestershire),
que estive com ela pela última vez, numa tarde de pesquisas para o li-
vro. Eu e Fabiano. Ela entusiasmada com o projeto, removendo nos-
sas dúvidas, acrescentando informações. -“Que memória prodigiosa”,
comenta Fabiano.” –“Fui criada com leite de cabra”, nos revela.
Serena nos deixou. Despediu-se dos filhos sem dramas, cons-
ciente de estar indo para um bom lugar. Não duvido que, no novo
e belo mundo onde agora reside, escreva suas memórias desse plano
grosseiro em que vivemos. Minha gratidão à Tia Ruth pelo que fez
por nossa cultura e pelo muito que me ensinou.
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