Page 83 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
árvore próxima antes que ele se levantasse. A galope, fui
avisar aos colegas de minha grande façanha, pela primei-
ra vez. O novilho foi levado para o curral e eu festejado,
pois, derrubar um boi era tarefa de vaqueiro profissional e
experiente e não de um jovem inexperiente e amador.
Depois de preso um bom número de reses, tocamos
a boiada até a fazenda de Tiel Mota e de lá, voltamos ao
Tamborilzinho, contando com entusiasmo nossas aventu-
ras naqueles dias chuvosos de dezembro da década de
quarenta.
Meu pai resolveu montar uma pequena loja filial na
região do Espigão, município de Brasília de Minas e colo-
car o seu caixeiro de confiança Zezinho Oliveira como
gerente. Eu, que flutuava aqui e ali, fui parar lá, não com
o propósito de trabalhar na loja, mas à procura de aven-
turas e de me divertir. Logo, encontrei o Zezinho Fagun-
des, filho da viúva fazendeira, Maria de Neco, dona de
muitas terras e de muito gado. Eu deveria ter uns quator-
ze anos de idade e o meu novo amigo, pouco menos. Tor-
namos amigos com o mesmo objetivo, correr e derrubar os
novilhos ariscos, só para ver a queda. Dona Maria ficava
apreensiva, mas aprovava a nossa amizade e fazia vista
grossa de nossas proezas.
Um dia daqueles, Dona Maria teve a ideia de ofere-
cer aos vaqueiros da redondeza uma novilha famosa pela
sua braveza, com a finalidade de reunir os peões do cam-
po e suas famílias para um churrasco. Porém, eles teriam
que pegar aquela rês xucra na larga para o banquete e
alegria de todos. A notícia correu e o dia foi marcado para
o acontecimento. Os vaqueiros famosos começaram apa-
recer para participar da façanha e mostrar suas melhores
perfórmances. Logo, na manhã daquele dia, já havia va-
queiros com suas vestes de couro, montando espirituosos
cavalos de campo, em volta do pátio da casa grande, pron-
tos para a caça à novilha de chifres pontiagudos e afia-
dos. Para minha surpresa, lá estava Elói, aquele vaqueiro
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