Page 80 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
O VAQUEIRO
Juvenal Durães Caldeira
Cadeira nº 81
Patrono: Nathércio França
Nas edições passadas, escrevi, com título “Coisas do
Passado” sobre o “carreiro” e o “tropeiro”, agora, falo do
vaqueiro, assunto tão importante quanto os outros para
aquela gente simples de outrora. Eu, como nos outros, es-
tive lá presente e participando daquela atividade que hoje
não existe mais no nosso meio. Em alguns lugares mais
afastados e longínquos do norte de Minas ainda há essa
prática, porém, considerada obsoleta para a nossa época.
Nasci em Montes Claros, mas fui criado até os dez
anos de idade na fazenda Cantinho, hoje integrada na
área militar do 55º Batalhão do Exército brasileiro, nas vi-
zinhanças de Montes Claros. Ali, acompanhei meus ir-
mãos mais velhos e os vaqueiros da fazenda com as lides e
manejos do campo. Criávamos o gado zebu de origem
Malabar/Índia. Uma parte era amansada e destinada à
leiteria ou ao engenho e carro de bois. Para negócio, meu
pai criava manada de novilhos de corte para os açougues.
As vacas leiteiras davam o leite para o consumo nos-
so e dos agregados. O que sobrava era para fazer doces,
queijo, requeijão, quitandas, coalhada e merenda com a
farinha de milho. O soro era para criação de porcos. Os
bois de carro transportavam cana para o engenho, pro-
dutos agrícolas e lenha para cidade.
O gado de corte era arisco pelo fato de viver nas
invernadas mais afastadas, com menos contato com os
vaqueiros e para a venda nas devidas ocasiões. De quan-
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