Page 81 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros

                    do em quando, meu pai vendia um lote de reses gordas
                    para os matadores. Era costume também, abater alguns
                    novilhos para o consumo da fazenda e para atender a
                    vizinhança.
                         Nas décadas de trinta e quarenta, chovia muito e os
                    fazendeiros viviam abastados com os fartos produtos agro-
                    pecuários. As fazendas eram quase autossuficientes com
                    a lavoura e com o gado para a manutenção da família e
                    das propriedades. Meus parentes eram grandes fazendei-
                    ros com muito gado. As terras do tio José Gonçalves na
                    margem direita do Rio Verde Grande alcançavam a re-
                    gião de Vaca Brava. Era uma propriedade de criação ex-
                    tensiva de gado destinado aos frigoríficos. Entre os seus
                    vaqueiros de fama lembro-me de Aurelino. Era um moço
                    destemido e campeava o dia inteiro montado num dos
                    cavalos treinados para o campo. O meu primo Beguito o
                    acompanhava na vigilância do rebanho arisco. Aurelino,
                    dedicado ao campo e descuidado de sua saúde, foi aca-
                    mado e morreu ainda moço, isolado num quartinho ao
                    lado do curral, fato comum naquela época sem recursos.
                         As grandes fazendas, geralmente, não tinham cer-
                    cas e o gado vivia solto e sem rumo certo. Os vaqueiros
                    campeavam e tratavam as reses feridas ou doentes na
                    mata, laçando e imobilizando-as numa árvore para os
                    curativos necessários.
                         Eu era criança, mas montava com segurança nos
                    cavalos de campo e participava nas buscas do gado com
                    os vaqueiros da nossa fazenda. Mas, um dia meu pai, com
                    desejo de mudar de ramo, dispôs daquele lugar saudoso e
                    nós voltamos para a cidade. Tempos depois, fomos para o
                    povoado de Tamborilzinho, município de Coração de Je-
                    sus, onde abrimos uma loja de tecidos, secos e molhados.
                    Eu já tinha doze anos de idade e trabalhava no balcão
                    com meu pai, porém, sem esquecer das aventuras do cam-
                    po. Ali, conheci a família de Dona Maroca e logo me iden-
                    tifiquei com seus filhos: Joaquim, Nozinho, Aldenor e Ge-

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