Page 62 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros

              com que o escritor cria imagens ou símbolos, ou ainda por
              conseguir dar nome e forma a uma dada experiência, o es-
              critor transforma a linguagem conhecida, imprimindo nela
              sua dicção e sua inspiração pessoal. E resistência, porque
              as obras da Literatura não se prendem a modelos ou mo-
              das, elas carregam uma dimensão transversal, atemporal,
              que atravessa os anos e nos permite lê-las com os olhos de
              hoje, independente de sua marcação cronológica.
                    E sendo eu uma leitora de Literatura devo reconhe-
              cer que poucas coisas comparam-se ao prazer de ler um
              romance contemporâneo, narrado à maneira clássica,
              exemplar, capaz de capturar o leitor do início ao fim da
              narrativa, pela razão primeira de encenar uma história
              bem contada, no sentido mais abrangente do termo, entre
              outras razões, que pretendo aqui, sucintamente, apontar.
              O romance em questão é este Serrano de Pilão Arcado. A
              saga de Antônio Dó, escrito pelo mineiro de São Francis-
              co, Petrônio Braz.
                    Trata-se de um livro que, sob todos os aspectos, re-
              conheço como obra literária e, além disso, trata-se de um
              livro escrito por Petrônio Braz, a quem admiro como pro-
              fissional, cidadão e “homem humano” – naquela dimen-
              são maior a que se refere o incomparável personagem Ri-
              obaldo, do romance Grande sertão: veredas.
                    O livro une a investigação histórica, a análise do ad-
              vogado e a capacidade de fabulação, portanto são sob três
              vozes distintas que Petrônio Braz narra seu romance. Ins-
              pirado, talvez, por Euclides da Cunha, que, ao narrar a
              batalha de Canudos, em seu fabuloso Os sertões, dividiu o
              livro em três tomos, para representar três aspectos distintos
              daquela página crucial da história do sertão brasileiro, Pe-
              trônio Braz divide, também, a sua narrativa em três fases:
              “As origens”; “Os Antecedentes” e “O Revide”.
                    Há, na estratégia de escrita, uma intenção programá-
              tica: representar as fases distintas da vida de Antônio Dó.
              Trata-se de fases perfeitamente interligadas, mas cada qual

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