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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
um senhor de nome Manoel. Apresentado ao mesmo, um homem
já maduro e com grande experiência, descreveu-lhe o desafio: levar a
água da Passagem da Pedra para Caetité.
Sorrindo, o velho garimpeiro declarou, apenas: “A gente só não
engruna na areia”.
Diante do olhar admirado e incrédulo dos técnicos da Embasa,
alguns poucos gruneiros de Brejinho das Ametistas deram início à
escavação, sob o comando de Seu Manoel. Fariam, com o custo quase
que somente da mão de obra, aquilo que custaria milhões à engenha-
ria.
AS ESCAVAÇÕES
A cada 50 metros eram abertos poços verticais, no fundo dos
quais seria feito o túnel por onde passaria o encanamento da água da
Passagem da Pedra. Nestes poços desciam os gruneiros e o material
necessário, bem como era retirada a terra resultante da escavação e
por onde saíam.
Nada de cálculos meticulosos, ou mesmo os triângulos de Pi-
tágoras: toda a “tecnologia” era baseada apenas na experiência dos
gruneiros, e no conhecimento empírico de Seu Manoel.
Era o velho minerador quem guiava as seções a serem aber-
tas, para que viessem a se encontrar no subsolo: além dos próprios
instintos, guiavam-se pela propagação do som. Um método bastante
simples e que deu certo em todos os pontos – exceto num, justamen-
te o último: nele o som era desviado em razão do mergulho de uma
formação geológica de quartzito.
João Lessa, como os demais funcionários da Embasa que estive-
ram no estudo inicial, morava na capital baiana, mas todas as semanas
vinha a Caetité, de avião, para acompanhar o andamento dos traba-
lhos e vistoriar sua execução.
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