Page 117 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros

                            incluindo sua mulher, filhos e súditos. A mulher e todos os filhos
                            morreram o mar, menos um. Vieram os restantes para as minas de
                            Ouro Preto. Resignado à sorte, tida por costume na África, homem
                            inteligente trabalhou e forrou o filho ambos trabalharam e forra-
                            ram um compatrício; os três, um quarto, e assim por diante até
                            que, libera a tribo, passaram a forrar outros vizinhos da mesma
                            nação. Formaram, assim, em Vila Rica em Estado no Estado. Fran-
                            cisco era o rei, seu filho o príncipe, a nora a princesa, e uma segun-
                            da mulher, a rainha. 7

                         Deste modo, pode-se perceber que a história do con-
                    gado está ligada a situações de repressão vivenciadas pelo
                    negro escravo, além de remeter ao seu passado glorioso
                    na mãe África, numa tentativa de reviver os momentos
                    em seus reinos. Nesses momentos em que elegiam um novo
                    rei, era colocado em prática um ato de rememoração do
                    passado africano e também um momento de fé e adora-
                    ção aos santos católicos, demonstrando mais uma vez um
                    sincretismo religioso, numa tentativa de sobrevivência dos
                    costumes africanos aqui no Brasil. Não que fosse fácil rea-
                    lizar esses ritos, no entanto, para se evitar maiores atritos
                    e rebeliões, o Estado acaba por conceder essa possibilida-
                    de aos negros, sendo mais uma forma de controle sobre os
                    africanos e seus descendentes.
                         Este era, portanto, um momento em que podiam
                    manter suas tradições, sua organização social e também
                    política, na forma de coroação do seu rei, demonstrando
                    deste modo, a sua liderança. Onde também, podiam ma-
                    nifestar as suas crenças através das músicas que saíam
                    dos seus instrumentos, sendo um momento de fé e perma-
                    nência cultural-religiosa.

                            A voz dos tambores, proibida no interior da igreja, soava nas ruas,
                            expressando ao seu môo as invocações ao santos. Éramos santos
                            da hagiologia católica desdobrados em outras significações, reves-
                            tidas da concepção mítica que remeti para o murmúrio íntimo dos
                            ancestrais. 8

                         A permanência desses rituais é uma forma de man-


                    1 GOMES; PEREIRA. Negras raízes mineiras: os arturos. p.35 - 36.
                    2 GOMES; PEREIRA. Negras raízes mineiras: os arturos. p. 92.
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