Page 115 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
P. 115
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
do assim, no início
Quando os negros, como recordação de Vila Rica, do monarca
africano, “Chico – Rei “vestiam-se de trajes típicos, dançavam nas
ruas e escoltavam os “reinados” do Divino, de Nossa Senhora do
Rosário e Benedito. Esses catopês obedeciam ao comando do ne-
gro velho Gonçalo Preto, o mais antigo capitão dos dançantes do
Brejo das Almas.
Deste modo, os costumes no decorrer da festa vão se
modificando, mas a tradição permanece. E para demons-
trar esses costumes com suas mudanças e permanências,
descreveremos abaixo os vários componentes das Festas de
Setembro, a começar pelas homenagens aos seus santos.
1.3FESTADOSNEGROS:ACOROAÇÃODOREI
Devido ao processo de colonização e também da uti-
lização dos negros como escravos, acontece de modo sig-
nificativo o sincretismo religioso, entre as crenças dos afri-
canos e do catolicismo. Esse sincretismo começa a aconte-
cer desde a chegada dos europeus à África, e assim como
estratégia de catequese, o culto a santos negros, como
Nossa senhora do Rosário ganha destaque dentro do ca-
tecismo perante a população africana. E assim também
acontecerá no Brasil, esse costume e devoção irá se alas-
trar por praticamente todo o território nacional, dando
mais ênfase às tradições.
O culto de Nossa Senhora do Rosário fora criado por São Domingo
de Gusmão, mas estava fora de moda, sendo restabelecido justa-
mente na época em que os dominicanos enviaram seus primeiros
missionários para a África; daí, sua introdução e sua generaliza-
ção progressiva nos grupos escravizados. Estes fatos bem indicam
que o culto de santos negros ou de virgens negras foi, de início,
imposto de fora ao africano, como uma etapa de cristianização, e
que foi considerado pelo senhor branco como meio de controle
social, um instrumento de submissão do escravo. 4
Essa é uma das hipóteses sobre a relação de fé e
devoção entre os negros e Nossa Senhora do Rosário. Há
1 BATISTE apud COSTA. A festa dos catopês em Montes Claros. p.6.
115