Page 116 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
ainda outra possibilidade, que fala da aparição de uma
imagem da referida santa em Argel, e que assim se inicia
o processo de devoção trazido para o Brasil. Nesse senti-
do, Nossa Senhora do Rosário é tida como a santa prote-
tora dos negros, fato transmitido oralmente de geração
em geração. Como é comum na tradição oral, as narrati-
vas se modificam na medida em que vão sendo conta-
das, adquirindo novas conotações e características pró-
prias dos lugares. Por isso em Minas Gerais numa das
versões sobre este tema:
Diz uma lenda histórica, que certa época, Nossa Senhora do Rosá-
rio apareceu sob as águas do mar. Imediatamente os caboclos, já
devotos da Santa Virgem através de catequeses de jesuítas, reza-
ram, dançaram, cantaram, tocaram seus instrumentos, para que a
Santa Virgem viesse até eles. Mas ela não veio. Em seguida, os
Marujos, também devotos, foram até a praia, e empreenderam
sua tentativa de trazer a Virgem do Rosário até eles. 5
Enfim, esta forte ligação com os santos negros tam-
bém traz para o Brasil o tradicional congado, que para
uns está ligado às lutas religiosas europeias da Idade
Média e para outros está associada a uma tradição luso -
afro-brasileira, onde “o catolicismo de Portugal forne-
ceu os elementos europeus da devoção à Senhora do Ro-
sário, a igreja no Brasil reforçou essa crença, enquanto
os negros, de posse desses ingredientes, deram forma ao
culto e à festa.” Então, o famoso congado que acontece
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em várias partes do Brasil, iniciou do sincretismo cultu-
ral e religioso entre brancos e negros, e ainda hoje é tra-
dição em regiões como Francisco Sá.
Outro personagem ligado à história do congado em
Minas, é Chico Rei, um africano que durante a festa de
Nossa Senhora do Rosário foi coroado rei, em menção à
tradição dos brancos em coroar os seus reis.
Francisco foi aprisionado com toda a sua tribo e vendido com ela,
1 GOMES; PEREIRA. Negras raízes mineiras: os arturos. p.102.
2 GOMES; PEREIRA. Negras raízes mineiras: os arturos. p.176.
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