Page 38 - Instituto Histórico Vol.VIII
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
NA AUSêNCIA DA MÃE
UMA ELEGIA AO AMOR ETERNO
Fabiano Lopes de Paula
Cadeira N. 66
Patrono: José Lopes de Carvalho
rummond, o poeta mineiro já questionava: “Por
que Deus permite que as mães vão-se embora?”
DEssa pergunta fez sentido naquela manhã tensa,
de um sábado de primavera. Perdia a minha mãe. Foi juntar-se
aos seus, aos outros e aos anjos. Desprendeu-se da vida para sem-
pre e não há como voltar atrás, para se fazer por ela o que não foi
feito, dizer-lhe coisas que não foram suficientemente ditas, para
sussurrar-lhe palavras de amor, gratidão e, sobretudo, pedir-lhe
perdão. Joia preciosa com que todos nós, sem distinção, somos
agraciados. Sabemos ser ricos possuindo-a, mas, por mais que
valorizemos esse tesouro, não o avaliamos suficientemente. O
tempo teria sido o necessário para tudo isso? A morte, porém,
não espera, vem inexorável, sem tempo nem hora determinados.
Desfaz-se um elo da corrente e recuperá-lo... impossível! Somos
pegos no meio do caminho, sem dizer tudo a ela ou fazer tudo o
que precisaria ser feito. Como deixar-se apoderar de uma dor de
morte que não é vã? Como distinguir essa dor de uma saudade?
De uma despedida? Não há como, não há palavras que possam
expressar esse momento. A ausência é um lado escuro do nosso
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