Page 40 - Instituto Histórico Vol.VIII
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros  Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
          sem querer de forma alguma romper o contrato tácito de amor de
          mãe pelos seus filhos. A vida, sabemos, provisória, e a morte não
          escapa do tempo. É irrevogável. Quando perdemos alguém, abre-
          -se, no flanco, a porta, e entroniza a saudade. Minha mãe, há um
          ano nos separamos, em vida, para vivermos no espírito da sau-
          dade e do consolo. Muita coisa vivemos , e nessa  convivência,
          o privilégio  de ser seu filho é o maior legado, que, mesmo com
          esse vazio involuntário, a sua presença  é uma constante. Ficará
          ao meu lado, pois a minha vida foi determinada pelo seu amor.
          A saudade! É trazer o outro dentro de si, mesmo na ausência.
          Pensar na morte de minha mãe significa um passo para dentro de
          mim mesmo, das minhas lembranças, dos meus temores supera-
          dos com o seu amor. Lembro-me e vejo-a em cada momento, em
          cada bolero que agora perderam parte de sua cadência, mesmo
          sendo Siboney, o seu preferido, há um gosto de perda. Perda essa
          sentida por todos nós, filhos, irmãos e pelos seus fiéis companhei-
          ros, seus dois  animais  de estimação, seu fiel Scott e a sua  gata
          que salvaste de morrer na rua, que  testemunharam e dividiram
          seus últimos momentos. Sei que o Criador a levou para uma nova
          vida, bem perto dele, merecimento pela sua bondade, carinho
          e amizade. As mães, de tão boas, não deveriam partir, seu amor
          é  único,  é  inimitável,  é  dom  que  brota  do  coração,  que  nada
          exige, é pura doação. É como diz, ainda, Drummond: é “veludo
          escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamen-
          to”. Não há palavras para expressar o vazio que fica com a saída
          de uma mãe. Parece que só depois sua importância cresce e se
          afigura mais. Elas se vão, mas ficam e permanecem no coração
          dos filhos. Deus permite que as mães vão-se embora, mas, na sua
          infinita bondade presenteia, sem distinção, cada um de nós com
          uma mãe.



                        Para Nazareth, com muita saudade.Outubro 2011.







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