Page 89 - REVISTA24
P. 89

Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
                                                                                                   a cidade que se fantasia de sertão, procurando imitar-lhe a indumen-
                                                                                                   tária, as artes, os usos e costumes, a culinária e a magia. É o sertão
                                  Lázaro Francisco Sena                                            que se engalana, em busca do colorido, dos prazeres e diversões que
                                                                                                   somente a cidade pode oferecer. As notas negativas, todavia, come-
                                  Cadeira N. 55
                                                                                                   çam a surgir na antevéspera das festividades, com as explosões das
                                  Patrono: João Luiz de Almeida                                    fabriquetas de bombas, quase todas localizadas em fundos de quintal
                                                                                                   e desprovidas de qualquer dispositivo de segurança. Há poucos dias,
                                                                                                   numa cidade bahiana, foi uma delas pelos ares, ceifando uma dezena
                                                                                                   de vidas humanas e espalhando o terror em toda a população vizinha.
                                                                                                   O pior é que isso não constituiu um fato inusitado e não se sabe onde
                                                                                                   e quando haverá uma nova explosão, já que todas essas fábricas são

                     O PERIGO DAS BOMBAS                                                           clandestinas e despossuídas de qualquer norma de controle.
                                                                                                         Não sou contra a festa, as diversões, a alegria. Condenamos,
                                                                                                   sim, os excessos e as imprudências, e alertamos sobretudo quanto às
                                                                                                   negligências, quase sempre de consequências danosas para as pessoas
                                                                                                   e para o meio-ambiente. Já se foi o tempo em que “soltar” foguete
                  ão vou falar das bombas terroristas que, vez por outra, aqui,                    era uma brincadeira divertida e inofensiva, pois as bombas subiam e
                  ali e alhures, são detonadas covardemente sobre entidades e
         Npessoas de governos constituídos, por órgãos extremistas de                              espocavam bem alto, fazendo vibrar mensagens de emoções para toda
          “esquerda” ou de “direita”, sob alegados e jamais convincentes moti-                     a vizinhança. Hoje é uma aventura das mais perigosas, com as bom-
                                                                                                   bas sendo arremessadas para baixo e para o lado, explodindo sobre
          vos político-ideológicos. Também não quero escrever sobre bombas
          de guerra, das mais rudimentares às mais sofisticadas e “inteligentes”,                  a cabeça dos circunstantes, quando já não explodem nas mãos dos
                                                                                                   próprios “fogueteiros”. A ganância pelo lucro fácil vai tornando os ar-
          capazes de identificar e acertar um alvo determinado, dentre inúme-                      tefatos de  pólvora cada vez mais inseguros, em razão da má qualidade
          ros outros que encontrem pelo caminho, no fatídico rastreamento de
          objetivos e instalações militares. O que nos interessa mesmo são aque-                   dos elementos utilizados em sua fabricação. As estatísticas pós-juninas
                                                                                                   são ricas em pessoas mutiladas por bombas, principalmente os mais
          las que se acham ao alcance de todos nós, sob a designação genérica
          de fogos de artifício, as bombas festivas de Santo Antônio, São Pedro                    jovens, vítimas imprudentes e preferenciais da irresponsabilidade dos
                                                                                                   adultos. E os incêndios provocados pelos fogos de artifício e pelos
          e São João.
                                                                                                   balões só não se tornam mais devastadores por causa da colaboração
               O mês de junho – já é do folclore  e da cultura – traz as maiores                   da natureza, que mantém a temperatura baixa nesta época do ano.
          alegrias para o sertão brasileiro, manifestadas de todas as formas pos-                  Também não podemos desprezar as inúmeras pessoas feridas ou as-
          síveis: queima de fogos, música, danças, fogueiras, comidas e bebidas,                   sassinadas neste mês, quase sempre no meio rural, onde o excesso de
          enfim a verdadeira folia sertaneja, superando até mesmo o carnaval,                      bebidas transtorna os cidadãos mais pacatos.
          mais adaptado e afeito ao ambiente urbano do que no meio rural. É
                                       - 88 -                                                                                   - 89 -
   84   85   86   87   88   89   90   91   92   93   94