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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
              a cidade que se fantasia de sertão, procurando imitar-lhe a indumen-
              tária, as artes, os usos e costumes, a culinária e a magia. É o sertão
 Lázaro Francisco Sena  que se engalana, em busca do colorido, dos prazeres e diversões que
              somente a cidade pode oferecer. As notas negativas, todavia, come-
 Cadeira N. 55
              çam a surgir na antevéspera das festividades, com as explosões das
 Patrono: João Luiz de Almeida  fabriquetas de bombas, quase todas localizadas em fundos de quintal
              e desprovidas de qualquer dispositivo de segurança. Há poucos dias,
              numa cidade bahiana, foi uma delas pelos ares, ceifando uma dezena
              de vidas humanas e espalhando o terror em toda a população vizinha.
              O pior é que isso não constituiu um fato inusitado e não se sabe onde
              e quando haverá uma nova explosão, já que todas essas fábricas são

 O PERIGO DAS BOMBAS  clandestinas e despossuídas de qualquer norma de controle.
                    Não sou contra a festa, as diversões, a alegria. Condenamos,
              sim, os excessos e as imprudências, e alertamos sobretudo quanto às
              negligências, quase sempre de consequências danosas para as pessoas
              e para o meio-ambiente. Já se foi o tempo em que “soltar” foguete
 ão vou falar das bombas terroristas que, vez por outra, aqui,   era uma brincadeira divertida e inofensiva, pois as bombas subiam e
 ali e alhures, são detonadas covardemente sobre entidades e
 Npessoas de governos constituídos, por órgãos extremistas de   espocavam bem alto, fazendo vibrar mensagens de emoções para toda
 “esquerda” ou de “direita”, sob alegados e jamais convincentes moti-  a vizinhança. Hoje é uma aventura das mais perigosas, com as bom-
              bas sendo arremessadas para baixo e para o lado, explodindo sobre
 vos político-ideológicos. Também não quero escrever sobre bombas
 de guerra, das mais rudimentares às mais sofisticadas e “inteligentes”,   a cabeça dos circunstantes, quando já não explodem nas mãos dos
              próprios “fogueteiros”. A ganância pelo lucro fácil vai tornando os ar-
 capazes de identificar e acertar um alvo determinado, dentre inúme-  tefatos de  pólvora cada vez mais inseguros, em razão da má qualidade
 ros outros que encontrem pelo caminho, no fatídico rastreamento de
 objetivos e instalações militares. O que nos interessa mesmo são aque-  dos elementos utilizados em sua fabricação. As estatísticas pós-juninas
              são ricas em pessoas mutiladas por bombas, principalmente os mais
 las que se acham ao alcance de todos nós, sob a designação genérica
 de fogos de artifício, as bombas festivas de Santo Antônio, São Pedro   jovens, vítimas imprudentes e preferenciais da irresponsabilidade dos
              adultos. E os incêndios provocados pelos fogos de artifício e pelos
 e São João.
              balões só não se tornam mais devastadores por causa da colaboração
 O mês de junho – já é do folclore  e da cultura – traz as maiores   da natureza, que mantém a temperatura baixa nesta época do ano.
 alegrias para o sertão brasileiro, manifestadas de todas as formas pos-  Também não podemos desprezar as inúmeras pessoas feridas ou as-
 síveis: queima de fogos, música, danças, fogueiras, comidas e bebidas,   sassinadas neste mês, quase sempre no meio rural, onde o excesso de
 enfim a verdadeira folia sertaneja, superando até mesmo o carnaval,   bebidas transtorna os cidadãos mais pacatos.
 mais adaptado e afeito ao ambiente urbano do que no meio rural. É
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