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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
Talvez a minha proposta não coincida exatamente com o ponto
de vista do leitor, mas, pelo menos, estou apresentando uma sugestão:
que se mantenha a animação do forró e da quadrilha; que se acendam Leonardo Álvares da Silva Campos
as fogueiras, como mensageiras da paz e da alegria, com o seu mor- Cadeira N. 97
no claro-escuro tão propício e acolhedor para os namoros que estão
começando; que se confraternizem nas rodadas de quentão, canjica Patrono: Urbino Viana
e amendoim; que sejam assadas as batatas, as mandiocas e as leitoas;
mas que se eliminem de vez os fogos de artifício dessa festa, espe-
cialmente as bombas, para que não tenhamos de lamentar depois os
danos causados às pessoas e ao meio-ambiente, já tão castigados por
outros infortúnios inevitáveis. EM CORAÇÃO DE JESUS,
Esta crônica foi publicada no antigo Jornal de Notícias do dia
15 de junho de 1991. São decorridos, portanto, vinte e nove anos, sem UM CRIME CONTRA A HUMANIDADE
que nada se alterasse, a não ser para piorar o caráter das festividades
juninas. Agora estamos experimentando um mal maior, a pandemia
do Covid-19, que vem ceifando milhares de vidas pelo mundo afora, omam-se hoje à nossa memória histórica as referências dos natu-
sem qualquer preconceito de cor, raça, credo ou condição econômica ralistas viajantes, que a partir do século XVI estiveram no Brasil,
e social. Já é voz comum que o mundo não será o mesmo, após a Satraídos pela exuberância de sua natureza e costumes da popu-
sua passagem avassaladora. Talvez possamos desenvolver um antivírus lação, embrenhando-se pelo seu hinterland coletando espécimes dos
capaz de combater essa pandemia e, ao mesmo tempo, despertar um três reinos da natureza para futuros estudos.
espírito de fraternidade universal entre países e pessoas, com a consta- Segundo Edison Moreira, fundador da “Livraria Itatiaia”, na
tação escancarada da imensa fragilidade humana. orelha da edição de 1979 de “Viagem pelas Províncias do Rio de Ja-
Aqui no Brasil, por conta desse corona-vírus, pelo menos fo- neiro e Minas Gerais”, de Auguste de Saint-Hilaire, obra editada por
ram canceladas, este ano, as famosas festas juninas do Nordeste, em sua editora, “esses depoimentos são, sem dúvida, os mais legítimos
especial as de Campina Grande-PB e Caruaru-PE. No “rastro” delas, sobre a realidade brasileira de então e são válidos até hoje, na maioria
outras também serão canceladas, o que trará, com certeza, uma queda das vezes dados por homens de cultura e saber nada comuns, cuja ho-
bem acentuada na estatística de mortos e feridos por bombas e outros nestidade indiscutível só visava a verdade sobre tudo o que viam. Da
artefatos pirotécnicos. As festas são lindas e atraentes, mas, no presen- galeria desses verdadeiros abnegados, de ânimo forte, ressalta a figura
te caso, vale consolar com o ditado popular que estabelece: “Beleza de Auguste de Saint-Hilaire, grande apaixonado do Brasil, cuja vasta
não põe a mesa”. obra, vazada na clareza, elegância e sobriedade de espírito francês, é
um panegírico à nossa Terra e, particularmente, à Província das Minas
Gerais, que sobremaneira distingue entre todas as que, ladeando rios,
escalando montanhas e atravessando planícies, visitou.”
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