Page 147 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
P. 147
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
crianças e mulheres”, mas já era tarde. Nunca saberemos
ao certo se houve alguma provocação. O fato é que os ja-
gunços obedeceram o mandado.
Sabemos que morreram várias pessoas, inclusive o
Secretário do Dr. Melo Viana, Dr. Fleury da Rocha, Yracy
de Oliveira Novais (Irmã de Jair Oliveira), o jornalista João
S. da Silva, mas há dúvidas sobre o número de mortos,
pois para o comício tinha vindo muitos políticos e pessoas
das cidades vizinhas. Supõe–se que talvez algum tenha
sido vítima desta monstruosidade. Talvez esta suposição
tenha fundamento por que na construção da sede do
Automóvel Clube de Montes Claros, justamente no local
onde fora a residência da Dona Tiburtina, houve um bo-
ato: que nas escavações encontraram uma cisterna cheia
de esqueletos. Mas nunca saberemos, ao certo, quais fo-
ram estas vítimas...
Após o tiroteio, os parentes recolheram as vitimas.
A comitiva também recolheu suas vítimas. Desceu a
Rua Dom João Pimenta, parando na esquina (casa da
Dona Fininha Silveira), para se refazer do choque, beber
água, voltando imediatamente para Belo Horizonte.
Foi a minha sorte não ter acompanhado a comitiva.
Talvez eu teria morrido também (e não estaria aqui hoje
contando para vocês esta história) nesta fatídica noite em
que Montes Claros perdeu filhos inocentes.
No dia seguinte ao tiroteio, satisfazendo minha cu-
riosidade de adolescente, resolvi sair de casa (apesar dos
apelos da minha mãe) e, passando onde ocorreu o sinistro
acontecimento, tive que saltar vários pocinhos de sangue
espalhados entre as pedras em todo o quarteirão.
Fiquei atordoada e, para meu desespero, a cidade
estava completamente deserta, paralisada, ninguém nas
ruas. Todos, ainda chocados e assombrados, permaneci-
am em casa, patéticos.
A revolta e o sofrimento permaneciam no ar.
Aí começou a fase negra dos anos 30.
147