Page 139 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
enviar, para indicar o ato de chifrar, agredir com os chi-
fres; que transformou o verbo pensar, fazer reflexões, re-
fletir, raciocinar em aplicação local de remédio em ferida;
que se utiliza do verbo delatar, denunciar alguém como
autor de um crime, com o significado de demorar, retar-
dar; para quem romper, fazer em pedaços, rasgar, é co-
meçar a andar, seguir em frente.
Assim, chego falando a linguagem do povo do Norte
de Minas, experiente em anos e leituras, mas “rompendo
em frente”, com entusiasmo de menino novo. Como afir-
mou José Lins do Rego em seu discurso de posse na Acade-
mia Brasileira de Letras, “não me complicarão a sintaxe a
presença de sábios e os rigores dos que manejam o estilo”.
Esse momento conforta-me, pois o que fiz na cons-
trução de uma vida não foi em vão. Esse momento, repor-
tando novamente às palavras de Machado de Assis, é “a
gloria que fica, eleva, honra e consola”.
E quem seria eu, se não me lembrasse daqueles a
quem amei e amo? Meus pais Brasiliano Braz e Maria
Augusta, no silêncio de seus jazigos, estão sorrindo. Mi-
nha esposa, meus filhos, netos e bisnetos estão eufóricos.
Meus amigos estão felizes. Eu, entre tantas emoções da
hora, sinto-me acalentado pela lembrança, exaltado pela
honraria, emocionado por frequentar esta casa ao lado
dos que são grandes!
Senhores e senhoras,
Que nome devemos dar ao orgulho sem vaidades
vãs, às alegrias maiores, à comoção verdadeira? Podem
faltar palavras a esse sertanejo simples, mas orgulhoso,
mas não me falta a consciência de que são momentos como
este que tecem o fio comprido da vida e que devo vivê-lo
segundo os princípios de Horácio: carpe diem quam mini-
mum credula postero.
Há dias, como afirmou Emerson, “em que o mundo
alcança a perfeição, quando o ar, os corpos celestes e a
Terra estão em harmonia, como se a Natureza se regozi-
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