Page 96 - Instituto Histórico Vol.VIII
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          piruca de sua cabeça com longos cabelos pelo malvado Ermelin-
          do”.
                 Estaríamos diante de um scalp (porção de couro cabeludo
          arrancado, por vezes exibida como troféu de guerra), comum en-
          tre os índios americanos do Norte?

                 Na sequência, o historiador relata: “Higino da Rocha foi
          homem de fortuna abastada, fazendeiro com cerca de duas mil
          cabeças, negociante no arraial de Burity à margem esquerda do
          rio Urucuia. Foi este homem arbitrário, velhaco, provocador de
          questões, quem reduziu e pôs Américo no mau caminho, tendo
          levado Américo com sua família e Deusdedit para o arraial de
          Burity, como jagunços, vencendo ordenado de Cr$ 300,00, por
          mês cada um deles”.

                 Conta o historiador que em acertos de contas Hygino da
          Rocha  teria  logrado  Américo  Queiroz  e  Deusdedit.  Ele  matou
          Deusdedit quando este tocava violão e refugiou-se em Formosa
          (Goiás), onde contratou jagunços.

                 Ele escreve: “Na  cidade  de  Formosa,  Américo  Queiroz
          reuniu vários celerados, facínoras da pior espécie: Sacerdote com
          cara de bobo, de uma sagacidade espantosa, facínora perigoso,
          Faustino Preto, um cabra mal encarado que tinha no lombo 18
          mortes, Salé, cujo nome é Clemente da Silva, com várias mortes,
          Hermilão ou João da Silva, Joaquim, cujo nome é Martinho, Ci-
          rilo de Barros e outros cangaceiros perigosos, todos eles naturais
          do povoado de Serra das Araras, nas fronteiras dos Estados de Mi-
          nas e Bahia, terra do famoso Antônio Dó cujas façanhas ficaram
          célebres nas cidades de São Francisco e Januária”.
                 Não  restam  dúvidas  de  que  as  lutas  das  quadrilhas  de
          Américo Queiroz, Higino e Santo Roquete, relatadas com deta-
          lhes por Olympio Gonzaga em 1946, estão descritas em “Grande
          Sertão: Veredas” com outros nomes e com o brilho do imortal
          acadêmico, pois a semelhança não será mera coincidência.

                 Nem sempre quem escreve relatando ou definindo fatos
          verídicos  ou  mesmo criados  pela  força  verossímil  do  imaginá-

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