Page 97 - Instituto Histórico Vol.VIII
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rio, presenciou os fatos. A ficção literária é obra do imaginário, o
que nos leva a generalizar afirmando que toda arte é produto do
imaginário. Os escritores, e os artistas em geral, ao contrário do
historiador que se estriba em documentos escritos, usam materia-
lizar os valores existentes sem uma elaboração formal objetiva-
mente definida. Eles criam. Criam dentro de um processo imagi-
nativo coerente, que transforma a sua criatividade em realidade
aos olhos do leitor. Eles realizam uma verdadeira interação entre
o imaginário e o real.
A arte, como declara Fernando Pessoa, “é um esquivar-se a
agir, ou a viver. A arte é a expressão intelectual da emoção, dis-
tinta da vida, que é a expressão volitiva da emoção. O que não
temos, ou não ousamos, ou não conseguimos, podemos possuí-
-lo em sonho, e é com esse sonho que fazemos arte”. (Livro do
desassossego. São Paulo, Cia. das Letras, 2006:234).
Na arte literária, Guimarães Rosa, autor do romance “Gran-
de Sertão: veredas”, viu e ouviu o sertão pela voz de outros, em-
bora o tenha pessoalmente descrito de forma insuperável. O pró-
prio Guimarães Rosa informa, sem citar seu nome, que Riobaldo
narrou sua saga a “um homem soberano, cir cunspeto, com toda
leitura e suma doutoração”, um homem “que sabe muito, em
ideia firme, além de carta de doutor”. Quem é este ouvinte se-
não o próprio Guimarães Rosa? Com exceção de uma viagem a
cavalo empreendida de Cordisburgo a Paracatu, pela periferia do
Grande Sertão, fazendo anotações, o grande Viator não penetrou,
pessoalmente, no âmago da região por ele tão bem descrita nas
andanças de seus personagens. Ele conseguiu chegar ao íntimo
da alma do sertanejo, mas não conheceu o interior da terra por
ele habitada, o andurrial agreste. Em conversa com Afonso Arinos
de Melo Franco teve ele conhecimento da existência da vila Barra
da Vaca, postada à margem do rio Urucuia, no interior do Grande
Sertão, hoje próspera cidade de Arinos, cenário do conto “Barra
da Vaca”, inserido em “Tutameia”.
O segundo documento, de tão grande valia, senão maior,
uma entrevista, em 13 de Dezembro de 1913, com Afonso Arinos
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