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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros  Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
              rio, presenciou os fatos. A ficção literária é obra do imaginário, o
              que nos leva a generalizar afirmando que toda arte é produto do
              imaginário. Os escritores, e os artistas em geral, ao contrário do
              historiador que se estriba em documentos escritos, usam materia-
              lizar os valores existentes sem uma elaboração formal objetiva-
              mente definida. Eles criam. Criam dentro de um processo imagi-
              nativo coerente, que transforma a sua criatividade em realidade
              aos olhos do leitor. Eles realizam uma verdadeira interação entre
              o imaginário e o real.

                    A arte, como declara Fernando Pessoa, “é um esquivar-se a
              agir, ou a viver. A arte é a expressão intelectual da emoção, dis-
              tinta da vida, que é a expressão volitiva da emoção. O que não
              temos, ou não ousamos, ou não conseguimos, podemos possuí-
              -lo em sonho, e é com esse sonho que fazemos arte”. (Livro do
              desassossego. São Paulo, Cia. das Letras, 2006:234).

                    Na arte literária, Guimarães Rosa, autor do romance “Gran-
              de Sertão: veredas”, viu e ouviu o sertão pela voz de outros, em-
              bora o tenha pessoalmente descrito de forma insuperável. O pró-
              prio Guimarães Rosa informa, sem citar seu nome, que Riobaldo
              narrou sua saga a “um homem soberano, cir cunspeto, com toda
              leitura  e  suma  doutoração”, um homem “que  sabe  muito,  em
              ideia firme, além de carta de doutor”. Quem é este ouvinte se-
              não o próprio Guimarães Rosa? Com exceção de uma viagem a
              cavalo empreendida de Cordisburgo a Paracatu, pela periferia do
              Grande Sertão, fazendo anotações, o grande Viator não penetrou,
              pessoalmente, no âmago da região por ele tão bem descrita nas
              andanças de seus personagens. Ele conseguiu chegar ao íntimo
              da alma do sertanejo, mas não conheceu o interior da terra por
              ele habitada, o andurrial agreste. Em conversa com Afonso Arinos
              de Melo Franco teve ele conhecimento da existência da vila Barra
              da Vaca, postada à margem do rio Urucuia, no interior do Grande
              Sertão, hoje próspera cidade de Arinos, cenário do conto “Barra
              da Vaca”, inserido em “Tutameia”.

                      O segundo documento, de tão grande valia, senão maior,
              uma entrevista, em 13 de Dezembro de 1913, com Afonso Arinos

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