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nhores alforriavam suas escravas e passavam a viver com elas.
Esse aspecto se dava sobretudo em função do pouco número de
mulheres brancas. Assim, estabelecia-se uma sociedade com alto
grau de miscigenação.
Chica da Silva, como outras mulheres de mesma condição,
foi mais uma escrava forra que conseguiu ascensão social, mas
que jamais seria aceita como esposa legitima. Nesse contexto,
essas mulheres passavam por um processo de assimilação dos
valores sociais predominantes na população branca e relegavam
a segundo plano – ou mesmo negavam - suas condições de ex-
-escravas. A ligação com um homem branco e a alforria eram
formas de libertação.
O mito Chica da Silva foi sendo construído através dos tem-
pos e de acordo com o momento histórico, como podemos com-
provar a seguir.
Inicialmente, temos o livro “Memórias do Distrito Diaman-
tino”, escrito em 1853 por Joaquim Felício dos Santos.
O contexto histórico e social da época em que esse livro foi
escrito jamais admitiria uma mulher mulata, escrava e, acima de
tudo, vivendo em concubinato com um homem rico e politica-
mente poderoso. Assim, em hipótese alguma essa mulher seria
bem retratada. Por esse motivo, sob a ótica de Joaquim Felício
dos Santos Chica da Silva “tinha as feições grosseiras, alta, cor-
pulenta, trazia a cabeça raspada e coberta com uma cabeleira
anelada em cachos pendentes, não possuía graças, não possuía
beleza, não possuía espírito, não tivera educação, enfim não pos-
suía atrativo algum que pudesse justificar uma forte paixão.”
Outro livro, “Chica que manda”, do escritor mineiro Agripa
de Vasconcelos, por sua vez, mostra uma Chica de maneira mui-
to romanceada.
O livro da historiadora Júnia Ferreira Furtado, “Chica da Sil-
va e o Contratador de Diamantes”, muito bem elaborado, mostra
nossa personagem com um tom de grande ufanismo, “a primeira
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