Page 101 - Instituto Histórico Vol.VIII
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros  Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
              nhores alforriavam suas escravas e passavam a viver com elas.
              Esse aspecto se dava sobretudo em função do pouco número de
              mulheres brancas. Assim, estabelecia-se uma sociedade com alto
              grau de miscigenação.

                    Chica da Silva, como outras mulheres de mesma condição,
              foi mais uma escrava forra que conseguiu ascensão social, mas
              que jamais seria aceita como esposa legitima. Nesse contexto,
              essas  mulheres passavam por um processo  de assimilação  dos
              valores sociais predominantes na população branca e relegavam
              a segundo plano – ou mesmo negavam - suas condições de ex-
              -escravas.  A ligação  com um homem branco  e  a  alforria  eram
              formas de libertação.

                    O mito Chica da Silva foi sendo construído através dos tem-
              pos e de acordo com o momento histórico, como podemos com-
              provar a seguir.

                    Inicialmente, temos o livro “Memórias do Distrito Diaman-
              tino”, escrito em 1853 por Joaquim Felício dos Santos.

                    O contexto histórico e social da época em que esse livro foi
              escrito jamais admitiria uma mulher mulata, escrava e, acima de
              tudo, vivendo em concubinato com um homem rico e politica-
              mente poderoso.  Assim, em hipótese alguma essa mulher seria
              bem retratada. Por esse motivo, sob a ótica de Joaquim Felício
              dos Santos Chica da Silva “tinha as feições grosseiras, alta, cor-
              pulenta,  trazia  a  cabeça  raspada  e  coberta  com  uma  cabeleira
              anelada em cachos pendentes, não possuía graças, não possuía
              beleza, não possuía espírito, não tivera educação, enfim não pos-
              suía atrativo algum que pudesse justificar uma forte paixão.”

                    Outro livro, “Chica que manda”, do escritor mineiro Agripa
              de Vasconcelos, por sua vez, mostra uma Chica de maneira mui-
              to romanceada.

                    O livro da historiadora Júnia Ferreira Furtado, “Chica da Sil-
              va e o Contratador de Diamantes”, muito bem elaborado, mostra
              nossa personagem com um tom de grande ufanismo, “a primeira

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