Page 103 - Instituto Histórico Vol.VIII
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
Chica da Silva teve treze filhos, doze com o contratador João
Fernandes, sendo oito mulheres e quatro homens. Ela e o contra-
tador viveram juntos entre 1753 e 1770, mas a união nunca foi
oficializada. Os costumes e leis da época jamais permitiriam – tão
grande seria o escândalo, que os protagonistas optaram por não
se submeterem a ele. Assim, optaram por satisfazer aos interesses
familiares, econômicos e sociais. Todos os filhos do casal, porém,
foram legitimados por João Fernandes como herdeiros.
Em 1770, João Fernandes foi obrigado a regressar a Portu-
gal, a fim de resolver problemas familiares devido ao falecimento
de seu pai.
Não voltaria mais a rever sua amada. Levou consigo os qua-
tro filhos legítimos, além de Simão Pires, o primeiro filho de Fran-
cisca. Cada filha recebeu como herança uma fazenda, o que lhes
garantiria recursos financeiros e bons casamentos. Com a morte
do contratador em 1779, Chica da Silva continuou sendo a se-
nhora do Tijuco, mantendo sua posição social e suas influências.
Unindo-se a um dos homens mais poderosos de Minas, a
ex-escrava obteve muitas regalias e privilégios, como participar
de ordens religiosas e irmandades, o que denotava status social.
Esteve presente na Irmandade do Carmo, a mais fechada e pres-
tigiosa do Tijuco, reservada exclusivamente aos brancos. Foi ma-
drinha de inúmeros batismos e casamentos, pois era hábito es-
colher as pessoas mais influentes para estes encargos. Chegou a
possuir em torno de cem escravos. Enviou suas filhas para estudar
no Convento de Macaubas, o mais prestigiado e caro educandá-
rio daquela época, inclusive com empregados para ajudá-las nas
atividades diárias. Possuiu diversas propriedades, como a bela
residência em Diamantina, localizada na Rua do Bonfim, sempre
aberta à visitação.
Chica faleceu em 16 de fevereiro de 1796, e sua cerimônia
fúnebre foi cercada por “pompas e circunstâncias”. Seu corpo
foi sepultado na igreja da Irmandade de São Francisco de Assis,
exclusiva da elite branca. Missas e badalos de sinos continuaram
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