Page 106 - Instituto Histórico Vol.VIII
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros  Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
               A escada, para o segundo pavimento, foi feita de madeira
          de lei e o corrimão estava artisticamente trabalhado (cópia per-
          feita do antigo). Eu fiquei emocionada ao vê-lo. Recordo-me das
          vezes que eu subia  e descia  aquela  escada,  sempre correndo,
          numa alegria e com a curiosidade infantil, procurando descobrir
          o que passava lá em cima, naqueles enormes salões.

               Confesso que naquela hora senti muita saudade. A Fely do
          meu lado percebeu a minha emoção e perguntou-me:
               - “Dona Ruth, a senhora quer ir lá em cima, para matar a
          saudade?

               Apesar dos meus 93 anos, eu aceitei o convite e subi muito
          devagar, degrau por degrau, (as pernas já não são as mesmas).
          Mas, a alegria de rever aqueles lugares tão queridos e que tantas
          recordações me traziam, deram-me forças e eu consegui.

               Percorri todos os cantinhos do Casarão (e foram tantos) e as
          lembranças afloraram no meu velho coração, que quase chorei
          com saudades dos doces momentos que ali passei nas várias fases
          da minha vida.

               Na minha infância, dos sete aos catorze anos, quando a vida
          se abria pra mim, iniciei ali o meu curso primário (Grupo escolar
          Gonçalves Chaves) que ali se instalara até sua mudança para o
          prédio próprio na Praça Dr. João Alves, onde funciona até hoje.

               Esta foi à primeira etapa da minha vida de estudante. Eu era
          apenas uma criança, sem maldade, inexperiente para enfrentar
          uma nova  vida,  mas cheia  de responsabilidades.  Eu estava  as-
          sustada, insegura. Mas este casarão acolheu-me como uma ga-
          linha de longas asas, agasalhando-me, protegendo-me. Naquele
          ambiente tão agradável eu me adaptei logo. Foi um tempo feliz.
          Tive professoras responsáveis, dedicadas, carinhosas. Quando eu
          já estava na terceira série (eu ainda me lembro), a minha professo-
          ra Dona Eponina Pimenta convidou-me para tomar um cafezinho
          gostoso, acompanhado de biscoitos caseiros que a sua emprega-
          da trazia-lhe, todos os dias. Naquela época não existia a merenda

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