Page 59 - Instituto Histórico Vol.VIII
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros  Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
              que empilhados em fileiras e conferidos, os negociantes recebiam
              suas mercadorias e os burros eram desarreados, raspados, trata-
              dos  com ração  e soltos  no  mangueiro  para  pastar,  beber  água
              e descansar para a volta do dia seguinte, com novas cargas de
              produtos da região, com destino ao mercado de Montes Claros.

                    Tudo feito, nós tomávamos banhos refrescantes no regato
              mais próximo, trocávamos de roupas e depois, cuidávamos da
              cozinha, fincando no chão, uma armação de ferro com alças e
              ganchos para manter penduradas sobre o fogo as panelas de fer-
              ro. Um dos tropeiros cuidava da limpeza do ambiente e o outro,
              do famoso arroz tropeiro, feito com carne seca em pedaços finos
              e verdura, para o nosso jantar.

                    À noite, depois de um pequeno descanso, começavam che-
              gar, aos poucos, as visitas. Eram os “homens do lugar”, com seus
              cumprimentos cordiais e atenciosos. Ali, eles sentavam nos cepos
              espalhados no salão da pousada e iniciavam suas prosas, enquan-
              to um dos nossos companheiros preparava a feijoada e colocava
              ao fogo para o almoço do dia seguinte, antes da partida. O outro
              preparava e servia o café tropeiro aos presentes, que o tomavam
              com gosto. O pó era preparado  artesanalmente. Torrado na pa-
              nela, moído no pilão e ali, feito e adoçado com rapadura. Depois,
              eles pitavam seus cigarros de palha, sentadas em círculo à beira
              do fogo, até mais tarde. Suas conversas, apesar da simplicidade,
              eram interessantes e instrutivas para o enriquecimento de minhas
              experiências, aprendizagem e formação moral.

                    Eu estava no começo da adolescência, mas já agia como
              gente grande e recebia daqueles homens de bem, um tratamento
              sério e respeitável, apesar de nossas diferenças de idade.
                    Depois das despedidas das agradáveis visitas, nós arrumá-
              vamos nossas camas no chão com couros estendidos e forrados
              com “colchonetes” acolchoados com palha de milho, à beira do
              fogo. E só acordávamos no dia seguinte para novas providências.
                    Levantávamos cedo. Os tropeiros cuidavam dos preparati-
              vos para a partida, enquanto eu negociava e acertava os últimos
              detalhes com os negociantes, para a condução da carga de volta.

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