Page 57 - Instituto Histórico Vol.VIII
P. 57

Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros  Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
              viajantes que representavam as grandes firmas de Belo Horizonte,
              de São Paulo, do Rio de Janeiro e de outros centros comerciais
              de tal porte. Depois de algum tempo, as referidas compras che-
              gavam à estação ferroviária de Montes Claros nos vagões de trem
              cargueiro. Então, os donos de tropas de burros eram procurados
              para  transporte das mercadorias ao povoado.

                    O negócio cresceu e meu pai achou melhor ter a sua pró-
              pria tropa. Comprou uma bem estruturada e em pleno funciona-
              mento. Eu, com o entusiasmo de adolescente de quatorze anos
              de idade, deixei o balcão da loja para ser o encarregado do com-
              boio.  Dominguinho  Caxiné e Francisco  Vermelho foram con-
              tratados como tropeiros. Eles acompanhavam os burros a pé. E,
              com o chocalhar das argolas engastadas nas pontas dos cabos das
              açoiteiras, eles mantinham perfeita comunicação com os animais.
              Eu montava um cavalo alazão bem arriado, o que me enchia de
              imponência e vaidade.

                    Nós pegávamos carga de Tamborilzinho para Montes Cla-
              ros. Depois, outra de volta para o Povoado ou para uma cida-
              dezinha qualquer da região. Assim, era o nosso trabalho. Num
              vaivém contínuo.

                    A tropa era composta de treze animais. Na frente marchava
              uma mula esguia, cor de mel e portentosa. Nós a chamávamos
              de “Rainha” quando considerada por sua beleza e elegância ou,
              de madrinha por sua liderança no comboio. Era uma mula bo-
              nita, disciplinada e segura nos seus passos. Além da carga que
              carregava no lombo, era bem arreada e ornamentada com ape-
              trechos dignos de mula de guia. Na cabeça, tapas de visão lateral
              enfeitados  de  espelhos  pequenos  e  redondos  no  meio  de  fitas
              coloridas. No peito, carregava o peitoral cravado de cincerros de
              tamanhos diversos e com tonalidades combinadas, emitindo um
              som suave e cadenciado para manter firme e constante a marcha
              dos animais.

                    Em seguida, vinha “Princesa”, mula de bom porte e de cor
              também, avermelhada. Tinha uma lista branca na testa e não per-

 56                                           57
   52   53   54   55   56   57   58   59   60   61   62