Page 123 - Instituto Histórico Vol.VIII
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros  Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
              matar de inveja os estudantes de repúblicas, ou aqueles que vi-
              viam desprezados nas casas de parentes, muitos em barracões de
              fundo de quintal. Foi lá que tive, pela primeira vez, um quarto só
              meu, com pia e guarda roupa, inicialmente, no térreo, do lado
              de dentro do pátio, na ala da praça Cel. Ribeiro, e, depois, no
              primeiro andar, quase de frente para os dois mais importantes
              endereços internos: os apartamentos de Ademar Leal Fagundes e
              do diretor do DNOCS, de quem não me lembro mais do nome.
              Foi uma melhoria de situação social que quase não tinha limi-
              tes, quando comprei, duas calças de tropical, uma meia dúzia
              de camisas sociais, novas meias e ... realização de velho sonho,
              um rádio de segunda mão, rabo¬ quente, que tocava músicas e
              dava notícias todas as manhãs. O Hotel São José era um mundo
              à parte, bom, alegre, importante, chique, principalmente depois
              que “seu” Juca assumiu a direção e realizou uma grande reforma.
              A saudade marcada com a ausência de D. Laura foi compensa-
              da com a elegância de D. Emília e a descontraída presença dos
              filhos, principalmente de uma menina que era a mais bonita da
              rua Doutor Santos, a Mercesinha, já quase em início de namoro
              com o João Walter Godoy. Zé de Juca, Lauro, Bernadete, todos
              eram também bastante simpáticos com os hospedes. A hora do
              jantar era quase sempre uma festa, exigindo¬-se a melhor roupa
              de cada participante do banquete diário, uma etiqueta fiscaliza-
              da de perto pelos garçons, principalmente pelo Fernando, que,
              até hoje, trabalha na profissão Poucos foram os estudantes que
              conseguiram a permanência no quadro de hóspedes. Um a um
              ia saindo, pedindo ou recebendo as contas, depois de uma brin-
              cadeira mais forte, ou do não respeito à posição da gente impor-
              tante e seria como era o sisudo e culto fazendeiro Ademar Leal, o
              milionário Manoel Rocha, a mais graduada figura do Exército na
              região, o sargento Moura, o advogado José Carlos Antunes, que
              falava inglês corretamente, Lagoeiro, músico chefe da regional da
              Rádio Sociedade, o diretor do IBGE, e o próprio dono, seu Juca,
              o único montes- clarense, na época, a ter feito uma viagem inter-
              nacional de muitos meses pela Terra Santa e pelo Mundo Antigo.
              Pode ser exagero de minha parte, mas, para nós, lá era o centro


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