Page 117 - Instituto Histórico Vol.VIII
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros  Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
              feinha até, mas nada importava, porque ao lado de Neném ele
              haveria de criar uma cidade nova, novinha, onde ela fosse até
              mais do que uma rainha. Quem vivesse ou sobrevivesse, veria!
              Neném ficou em Belo Horizonte duas semanas para dar tempo
              ao tempo, indo depois para mais uns quinze dias na casa de D.
              Altina,  no  Alto  São  João,  em Montes  Claros.  Foi o prazo  para
              Enéas comprar pneus novos para os caminhões, ajeitar alguma
              coisa nos motores, aprontar as ferramentas e ensacar o que comer
              e pegar a gasolina tão difícil na época. Antônio Miguel, Mestre
              Severino, Epifânio e José Porfírio, além dos motoristas a postos,
              só esperavam a ordem de viajar. Foi uma dura travessia de muito
              esforço e suor, principalmente depois de Brejo das Almas, em es-
              tradas feitas para animais e quando muito para carroções e carros
              de bois. As enxadas e os enxadões, as picaretas e alavancas não
              pararam tempo nenhum pela tarefa de derrubar barrancos e tapar
              buracos, acertando aqui e ali, empurrando pedras nos carreiros
              das rodas dentro dos rios e córregos. Dos lados da mataria densa,
              com cheiro de terra molhada, a natureza espocava em flores e
              sons, numa alegria depois de chuva rara. Chegaram ao Sapé, afi-
              nal, na madrugada do dia 20 de janeiro, ano de guerra de 1942,
              depois de quase meia semana de pelejas. Foi um sono só para
              todos nos catres sem conforto da casa já alugada, por carta, a D.
              Antônia, mãe de Elpídio da Rocha.

                    Instalada com a consciência de quem veio para ficar, Ne-
              ném era, a seu ver, a mais jovem e mais bonita dona de pensão
              de todo o sertão brasileiro, competente,  decidida,  a gerir uma
              casa  grande,  bem  assoalhada  e  de  paredes  brancas,  logo  mais
              uma hospedaria para doutores da estrada-de-ferro em construção,
              entre eles os engenheiros Demóstenes Rockert, Novais, Laviola,
              e os médicos Eduardo Morgado e Darce, todos gente de maior
              simpatia. Para cumprir as exigências dela e salvar as aparências,
              Enéas Mineiro de Souza, capitão da Polícia de Pernambuco, era
              apenas um hóspede a mais, empreiteiro de muitos serviços, des-
              matador chefe. Nada além disso, pelo menos durante o dia e até
              a hora em que todos iam dormir... Com as duas empregadas que
              Neném trouxera de Montes Claros, tudo espelhava limpeza e ar-

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