Page 114 - Instituto Histórico Vol.VIII
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
Sargento Moura e um quintal onde um por um havia de montar
guarda, dividindo a segurança com um camarada, que ficava na
porta de entrada. Não havia cadeiras; havia bancos, duros e pesa-
dões, separados com razoável distância para evitar cotoveladas e
outros tipos de brincadeiras tão normais entre a rapaziada. De to-
dos os lados, menos à direita, janelas e mais janelas, que existem
até hoje no prédio que veio alguns anos depois, quando o TG
saiu para o Bairro Edgar Pereira, mudou de instrutor e permane-
ceu lá até a chegada do 55 BI. O Sargento Moura, altão, moreno,
elegante, imponente, falador sempre, era o dono incontestável
do tempo e da turma, primeira e última palavra em qualquer si-
tuação, só humilde nas eventuais inspeções ou no exame final
do mês de outubro, quando vinha um capitão ou um major, uma
espécie de imperador ou professor-chefe, que passava a centra-
lizar todo o nosso interesse e cuidado. O Sargento Moura só era
muito sério nas horas de instrução, pois extremamente exigente
nas ordens de comando. Nas outras partes do dia, quando íamos
ao Tiro para qualquer assunto, ou quando nos encontrava na rua
ou em nosso local de trabalho, era como se fosse um colega mais
velho, bondoso, amável, sempre um grande amigo, brincalhão,
a colocar a mão no ombro de cada um em tom de conselhei-
ro. Como bom professor, sabia de tudo, todos os assuntos eram
do seu domínio, pertenciam ao seu mundo de cultura e de ex-
periência humana. Dos companheiros de caserna, se podemos
chamar de caserna um local que nos segurava apenas em parte
de cada manhã e em algumas horas a mais nos domingos, dos
companheiros, temos muito que lembrar. Afinal, havia gente de
todo jeito para povoar toda um universo de lembranças, princi-
palmente os mais extrovertidos que deixam marcas pela quase
eternidade. Isso para não dizer das influências e notícias de tur-
mas passadas e futuras que - queira ou não - surgem e ressurgem
da saudade. No meu tempo, os mais compenetrados eram os
dois Renatos, o Veloso e o Almeida, por sinal, os mais capazes,
do RDE aos exercícios de marcha e de tiro. Os mais malandros
eram o Pamplona e o Souto, os dois terrivelmente imprevisíveis,
tanto para nós como para o Sargento. O Souto é hoje bem co-
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