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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros                              Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
                                                                                                         Seus cabelos, os colares, os brincos, tudo está no mais completo
                                                                                                   estilo verde, amarelo, azul e branco. No desfile de Sete de Setembro de
                                                                                                   1992 em Montes Claros, ela ganhou de um admirador uma sombri-
                                                                                                   nha nas cores, verde e amarelo. Quando lhe pergunto se ela tem medo
                                                                                                   do futuro, me responde com segurança: - Não! Deus é Pai e o Pai não
                                                                                                   abandona suas criaturas e nem o Brasil.

                                                                                                         Assim é o modo de viver de Emília, a brasileira que mora em
                                                                                                   Montes Claros. Ela é feliz e ajuda muitas pessoas a ser feliz também.



                                                                                                   UM CANTO DE DOR NO CERRADO (1988)

                                                                                                         A Primavera chegou em Montes Claros e eu nem percebi. Ame-
                                                                                                   acei arrancar os meus cabelos, bater forte com os pés na terra seca
               Ela aponta para uma menina que está ao seu lado e esclarece:                        protestando e até dizer algumas pragas conhecidas. Eu reagi a tempo
                                                                                                   e descobri. Afinal eu não tenho tanta culpa assim.
               - Você está vendo esta menina aqui do meu lado? Ela tem sete
          anos de idade e se chama Jéssica. A mãe dela trancava-a em casa à                              A Primavera quando chega ilumina a terra com flores e per-
          noite e saia para dançar. Tomei-a para mim. Hoje é a minha filha.                        fume. Os campos ficam floridos e os pássaros gorjeiam alegremente
          Não é bonita?                                                                            por entre as flores homenageando a vida. Os animais procriam e até
                                                                                                   as tesourinhas, pássaros de outras plagas, que migram para o cerrado
               A menina morena de cabelos compridos e olhos graúdos apenas                         nessa época, voam alegres perseguindo os urubus que voam perto de
          sorri. - Por que a senhora pegou essa criança para criar? - Por que é mi-                seus ninhos.
          nha a responsabilidade de diminuir o sofrimento das pessoas. Já que
          o governo não faz isso, eu faço a minha parte. Dou um lar para ela, a                          Neste ano de 1988, não aconteceu nada disso. Não vejo as flo-
          alimento, dou roupas e muito amor. Ela já está estudando.                                res porque as árvores foram transformadas em carvão. Pobres carvoei-
                                                                                                   ros de todas as idades que se definham com as árvores que queimam.
               A Semana da Pátria é a melhor época da vida dessa senhora. No
          dia sete de setembro ela se veste de verde, amarelo, azul e branco e vai                       Pobre daqueles que se enriquecem queimando árvores e ani-
          para a avenida comemorar a data, saudando todo o mundo, aplaudin-                        quilando homens, que para sobreviver se submetem a esse tipo de
          do o desfile de Sete de Setembro.                                                        serviço, causando um mal irreversível à natureza.
               Ela faz questão de subir no palanque com a Jéssica, junto com                             Os campos estão mortos. A terra nua apela aos céus num grito
          as autoridades para melhor aplaudir os participantes do desfile e o                      mudo de dor e de desalento. Não vejo os pássaros, nem as borboletas,
          aniversário do Brasil.                                                                   nem as abelhas, nem sinto o perfume das flores para anunciar a che-
                                                                                                   gada da Primavera.

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