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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
                                                                                                   um status de matar de inveja os estudantes de repúblicas, ou aqueles
                                                                                                   que viviam desprezados nas casas de parentes, muitos em barracões
                                  Wanderlino Arruda                                                de fundo de quintal. Foi lá que tive, pela primeira vez, um quarto

                                  Cadeira N. 33                                                    só meu, com pia e guarda-roupa, inicialmente, no térreo, do lado de
                                                                                                   dentro do pátio, na ala da praça Cel. Ribeiro, e, depois, no primeiro
                                  Patrono: Enéas Mineiro de Souza                                  andar, quase de frente para os dois mais importantes endereços: os
                                                                                                   apartamentos de Ademar Leal Fagundes e do diretor do DNOCS,
                                                                                                   de quem não me lembro mais o nome. Foi uma melhoria de situação
                                                                                                   social que quase não tinha limites, quando comprei, duas calças de
                                                                                                   tropical, uma meia dúzia de camisas, novas meias e... realização de
                                                                                                   velho sonho, um rádio de segunda mão, rabo¬ quente, que tocava
                          HOTEL SÃO JOSÉ                                                           músicas e dava notícias todas as manhãs.

                                                                                                         O  Hotel  São  José  era  um  mundo  à  parte,  bom,  alegre,  im-
                                                                                                   por¬tante, chique, principalmente depois que “seu” Juca assumiu a
                                                                                                   di¬reção e realizou uma grande reforma. A saudade marcada com a
                                                                                                   ausência de D. Laura foi compensada com a elegância de D. Emília e
                  á cerca de dois anos, venho percorrendo, aos poucos, a rua                       a descontraída presença dos filhos, principalmente de uma meni¬na
                  Doutor Santos, a pedido do colega Elton Jackson e em obe-
         Hdiência a um esquema tempo/espaço traçado desde a pri-                                   que era a mais bonita da rua Doutor Santos, a Mercesinha, já quase
          meira crônica so¬bre o assunto. O meu objetivo é chegar à Rua Bo-                        em início de namoro com o João Walter Godoy. Zé de Juca, Lauro,
                                                                                                   Bernadete, todos eram também bastante simpáticos com os hospedes.
          caiúva e, aí, em atendimento a um sonho de minha amiga Nailê,
          fiel cobradora de minhas lembranças de vizinho, falar de quando ela                      A hora do jantar era quase sempre uma festa, exigindo¬-se a melhor
                                                                                                   roupa de cada participante do banquete diário, uma etiqueta fiscali-
          era criança, quase menina-moça, dos tempos de nascimento cio João                        zada de perto pelos garçons, principalmente pelo Fernando, que, até
          Wlader e do José Danilo. Passo a passo, saí do Hotel São Luiz, de D.
          Naza¬reth Sobreira e do Bar de Adail Sarmento, no início da rua, e,                      hoje, trabalha na profissão
          hoje, chego ao Hotel São José, de D. Laura e, depois, de D. Emília                             Poucos foram os estudantes que conseguiram a permanência no
          e do inesquecível Juca de Chichico e do eterno gerente Geraldo. São                      quadro de hóspedes. Um a um ia saindo, pedindo ou recebendo as
          lembranças agradáveis, grandemente gratificantes de um jovem que                         contas, depois de uma brincadeira mais forte, ou do não respei¬to à
          alcançava a idade adulta, já hóspede em hotel, com uma indi-viduali-                     posição da gente importante e seria como era o sisudo e culto fazen-
          dade e uma privacidade nunca antes imaginadas como mo¬rador de                           deiro Ademar Leal, o milionário Manoel Rocha, a mais graduada fi-
          pensões.                                                                                 gura do Exército na região, o sargento Moura, o advogado José Carlos
                                                                                                   Antunes, que falava inglês corretamente, Lagoeiro, músico-chefe da
               No Hotel São José, cuja placa dizia o maior e o melhor, ser
          hóspede já era um grande privilégio, marcava, quer queira quer não,                      regional da Rádio Sociedade, o diretor do IBGE, e o próprio dono,
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