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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
Contudo, um exame acurado na precaríssima literatura relativa
ao povoamento interiorano brasileiro possibilita levantar luzes de vela
naqueles tempos praticamente soterrados pelo passado, permitindo o
resgate de uma parcela, ainda que mínima, da nossa memória históri-
ca. Vejamos o que é possível concluir desta colcha de retalhos.
Um livro pouco conhecido, mercê das edições limitadas de
tempos outros e sua quase nula penetração interiorana, O Ouro das
Gerais e a Civilização da Capitania, de autoria do escritor mineiro
João Dornas Filho, traz colocações contra as quais se posicionou de
forma contrária e contundente o historiador paulista Mário Leite,
engenheiro fiscal, em sua obra, de 1961, Paulistas e Mineiros, Plan-
tadores de Cidades, quando, em certo momento aponta não um, mas
dois fundadores para Montes Claros, a antiga Formigas: o sertanista
paulista Antônio Gonçalves Figueira, filho de Manuel Afonso Gaia e
Maria Gonçalves Figueira, expulso da bandeira de Fernão Dias Paes
por atos de covardia como preador de índios, após companheiro fiel
do também sertanista Matias Cardoso, e o garimpeiro, também pau-
lista, capitão Miguel Domingues, citado equivocadamente por alguns
historiadores como de sobrenome Domingos.
Registrou João Dornas Filho: “Ao contrário do paulista, o mi-
neiro é sedentário e monossilábico por fatalidade moral. A diferencia-
ção tão profunda entre os dois caracteres vem de que, bem antes de
iniciar-se o silencioso trabalho da miscigenação, o elemento paulista,
que predominava em Minas, emigrou para Goiás e Cuiabá ou regres-
sou a São Paulo em virtude do conflito dos Emboabas. Isto é que ex-
plica a diminuta influência da genealogia paulista em Minas Gerais.”
Rebatendo o mineiro, Mário Leite asseverou: “O paulista nas
dobradas da Mantiqueira fica um autêntico mineiro, enquanto o mi-
neiro nas chãs da terra roxa, nos sítios propícios do solo bandeirante,
porfiando em avançadas iniciativas, torna-se um verdadeiro paulis-
ta.” Acrescentou: “Não é certo, também, que a influência genealógica
paulista em Minas seja diminuta, como quer o autor citado. Do pe-
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