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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
Quatrocentos. O Mané Quatrocentos era portanto, o cortador de le-
nha. Lá vinha ele todo engomado dentro do seu terno engravatado,
machado ao ombro, para executar esse serviço. Em se falando de goza-
ções, com o Mané Quatrocentos era diferente. Era ele quem produzia
tais brincadeiras. Terminantemente não deixava brechas a gozação. O
seu maior prazer era parar perto de um transeunte olhar para o alto e
dizer: “Cuidado moço, senão você cai daí”. Quando o passante olhava
para cima, ele levava a mão na altura do pescoço e dando um piparote
no gogó, dizia: “Ó lalaika!” e caia na gargalhada. Certa ocasião surgiu
um boato que o Mané Quatrocentos havia ganhado na loteria. Quan-
do os malandros souberam da notícia, deram no barraco do Mané
Quatrocentos e bateram muito nele a procura do dinheiro. No dia
seguinte, orientado pelos vizinhos, ele apareceu na delegacia, contou
ao delegado o ocorrido dizendo que nunca jogou em loterias e nem
sabia o que era isso. Tempos depois o coitado apareceu morto em seu
barracão. Não sei qual o motivo de sua morte.
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