Page 163 - INSTITUTO HISTÓRICO VOL XI
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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
das com o suor do século passado. Caso de amor à primei-
ra vista, Haroldo embeiçou-se pela nobre vivenda e sen-
tiu-se imediatamente na pele de um poderoso grão-pro-
prietário, dono da segurança de uma fortaleza ao mesmo
tempo urbana e histórica. Viu e gostou. Gostou e com-
prou. Comprou e pagou. Pagou por ser o incontestável
possuidor da possuída posse.
A casa de Haroldo, amigos, não é uma casa comum,
que a escritura diz construída de alvenaria, de simples e
perecíveis tijolos. É obra granítica, com paredes de meia
braça, a sustentar janelas coloniais, portas imensas, de duas
bandas, com pesadíssimas traves e ferrolhos, frutos, não
só da segurança mineira como da senhorial competência
de suados ferreiros de antanho. A casa de Haroldo, de
telhado de aroeira lavrada a golpes de enxó por mãos com-
petentes, tem repetidas ripas de jacarandá! As paredes das
salas mais nobres são revestidas com lambris e o piso é
digno das passadas de um comandante-centurião. Na fren-
te, o arquitetônico ornato de uma resistente cimalha dá o
toque do poderio e da força de uma escolha consciente do
construtor e mestre-de-obras, orgulho da arte de cantaria.
O fundo do nobre solar, após generoso quintal de fru-
tos opimos, divisa com as mais cristalinas águas do rio de
areias brancas, leito de pedras polidas, barrancas atapeta-
dos de grama verdinha e capim gordura. Ao longe, mas
não muito distante, o perfil elegante de centenárias árvores
a formar moldura com o azul de ferrugem das serras e a
linha cinzenta-celeste do horizonte. Tudo uma graça, um
encanto para os olhos e um prazer para o coração...
Por tudo isso, pelo amor, pelo romantismo da deci-
são comercial, pela poesia, pelo gosto, pela nobre humil-
dade e pela humilde nobreza de sã consciência, prevale-
cendo-me não sei de que autoridade, não tenho dúvida de
atribuir a Haroldo Lívio, culto e intelectual senhor das
Minas Gerais, o título de Barão de Grão-Mogol.
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