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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros  Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
                    Árvore altaneira, comparo-a ao jatobá africano que vive milê-
              nios e é uma árvore sagrada, daquela cultura, contudo para mim a
              Sapucaia representa a história de uma família porque debaixo dela,
              florida, seca, velha, murcha, guarda em suas folhas, caules e flores,
              estas lembranças de uma família que veio de Diamantina, plantada
              no sertão montes-clarense e segue o seu destino de várias gerações que
              aí está ou já se foram.

                    Não é melancolia é saudade, pois ela não envelhece, como todos
              nós, mas em todas as estações ela acompanha o ritmo – inverno, ve-
              rão, outono e primavera em meu coração, pois o natal está chegando.

                    O meu sonho é plantar um pé de sapucaia na fazenda e vou
              fazê-lo, pois ela é um símbolo da família Souto, já que começou a vida
              nosso antepassados.


              FRAGMENTOS DE VIDA
 Sebastião Souto Veloso
                    No Brasil, as notícias sobre a política local corriam de norte a
              sul. Era a ditadura militar que determinava as ordens e os rumos da
 Não morei nesta casa, mas retenho na memória alguns fatos   história. Nesse ambiente instável de mortes e prisões, surgia o amor
 contados, por meu pai, grande admirador de Chico Souto, que era   de Bertha e Durval, ambos, exilados políticos, por discordarem do
 seu avô materno.   regime político.
 Vejo seu retrato, homem alto, magro, elegante, bem vestido,   Bertha estava na prisão quando recebeu a notícia de que um
 junto à esposa e aos filhos. É um retrato na parede, mas ele permanece   jovem exilado político chegara, recentemente, e estudava em uma cela
 vivo na minha memória, pelos fatos a mim contados.  ao lado. A comunicação atravessava por meio de alguns cochichos e
 Era um homem sério, trabalhador que não gostava de indo-  trocas de palavras ouvidas dos guardas.
 lência, mesmo tendo posses, ficava sentado em sua cadeira, cortando   A prisioneira política era bonita, alta, morena e de idéias de
 palhas de milho para fazer cigarros, as vendia e com este dinheiro   esquerda, e a morte rondava por todos os lados, como um filme de
 chegou a construir uma casa modesta, é claro.  terror. O silêncio imperava e o medo também.
 Falo isso para honrar o seu caráter, hombridade, e amor ao tra-  Durval havia sido preso por espalhar idéias e panfletos contrá-
 balho. Poderia falar sobre o seu exemplo, rigidez com os filhos, mas   rios ao regime vigente. Era o momento crucial da ditadura.
 que me levou a escrever foi o pé de Sapucaia.

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