Page 139 - instituto_histórico_vol.xv
P. 139
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
varas, uma horta tinha todo tipo de verduras, tudo bem cuidado. E ao
fundo, depois de um terreiro espaçoso, ao lado do qual ficava o mon-
jolo, em cujo poço a meninada tomava banho, começava o extenso
cafezal. entremeado de uma variedade incrível de árvores frutíferas.
Contando com excelente cozinheira, a Filomena e Felisberto,
um serviçal, além de Lia e Zé de Lia (seus afilhados, que lhes pediam,
a ela e ao Major Pedro, a benção de joelho), madrinha Carlota nos
provia à mesa com um cardápio principesco, vinho de jabuticaba, do-
ces de marmelo e de leite, com remate de um licorzinho de jenipapo
– tudo feito em casa.
Igual tratamento era proporcionado às famílias de Taiobeiras e
adjacências que, em caravanas, ali aportavam, quando iam a pagar
promessas em Bom Jesus da Lapa, na Bahia. Tudo de graça. Os padres
em missão, desobrigas ou visitas pastorais, também por lá passavam,
fazendo jus a uma acolhida vip.
Mas, na voragem do tempo, tudo passou. Quase todos havía-
mos mudado para Belo Horizonte, para estudar e trabalhar. A fazen-
da foi alienada após o falecimento de minha avó e restou-nos apenas
a saudade daqueles tempos ditosos.
Muitos anos depois eu e meus filhos voltamos ao local, pen-
sando até em readquirir o imóvel, para restaurá-lo no que fosse
preciso. A decepção foi enorme. Mil vezes não o tivéssemos feito! A
fazenda desapareceu. Só encontramos a terra nua...
- 139 -