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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
              sonhos possíveis e impossíveis para dar aos leitores a sensação de es-
              tar colorindo pinturas com as cores do próprio tempo. Cotrim - que
              já alcança situações de maestria da história - ao contrário, é outro
              tipo de pesquisador. Seriamente em cima de documentos, é o escri-
              vão competente de escrituras do fielmente acontecido. Ele não tem
              compromissos com o dia-a-dia político, com as vaidades dos que go-
              vernam ou formam opiniões. Escreve dentro do real, marcado sempre
              pelo acontecido, sem ferir e sem apresentar tintas do que não existiu
              ou não existirá. Sempre real, sempre justo com os textos que vieram
              antes dele, observa grafias, realça destaques. Seus mapas são desenha-
              dos por viajantes ávidos das novidades e das belezas do sertão mineiro
              e norte-mineiro. Muitos dos seus textos têm a fé de ofício de amigos
              nossos da escrita montes-clarense, entre eles os escritores Artur Jardim
              de Castro Gomes, Simeão Ribeiro Pires, João Valle Maurício e o jor-
              nalista Fernando Zuba. Diferente de Cotrim, eu não, tentaria muito
              mais do que a verdade, talvez até mais do que muito...

                    Da sala de jantar de Nana e José Edson, ela pintora, professora,
              poeta do bordar e cozinhar, ele ex-prefeito da cidade, enquanto Dário
              Cotrim e eles conversam, levanto-me e saio de câmera em punho,
              para captar todo um mundo de belezas, frente a frente com a Ser-
              ra Resplandecente. Não falo nem explico nada, isolo-me e só vejo a
              montanha verde, que está, ou continua numa beleza de eternidade.
              Bato uma, bato duas, bato vinte ou trinta fotos, um clicar de doce
              emoção. Coisa boa é câmera não ter mais filmes e você ficar à vontade
              para bater todas as fotografias do mundo. Ainda do lado de dentro,
              como se fosse um alpendre, mudo muitas vezes de posição e decido
              sobre as imagens que quero ter no agora e no depois. Ganhando o
              espaço externo, desço um, desço dois, desço todos os degraus, até
              encontrar a maior visão da superfície de verde e de brilhos. Quase
              não dá para economizar cliques, porque tudo é bonito demais numa
              paisagem que os bandeirantes viram e que até hoje alumia a história.
              Nem posso imaginar como tem sido cada amanhecer e cada boquinha
              da noite para aquelas almas sedentas de beleza da imensidão de Brasil,
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