A simbiose espiritual permanece entre os homens, desde
as eras mais remotas, em multifários processos
de mediunismo consciente ou inconsciente, através
dos quais os chamados "mortos", traumatizados
ou ignorantes, fracos ou indecisos, se aglutinam, em
grande parte, ao "habitat" dos chamados "vivos",
partilhando-lhes a existência."
SUSTENTO
DO PRINCÍPIO INTELIGENTE - 0 principio inteligente,
que exercitara a projeção de impulsos
mentais fragmentários para nutrir-se durante
largas eras, alçado ao Plano Espiritual, na condição
de consciência humana desencarnada, começa
a plasmar novos meios de exteriorização,
em favor do sustento próprio.
No mundo das plantas, com o parênquima dorofiliano,
aprendeu a decifrar os segredos da fotossíntese,
absorvendo energia luminosa para elaborar as matérias
orgânicas, e lançando de si os gases essenciais
que contribuem para o equilíbrio da atmosfera.
No domínio de certas bactérias, inteirou-se
dos processos da quimiossíntese, aproveitando
a energia química haurida na oxidação
de corpos minerais.
Entre os seres superiores, consagrou-se a biossíntese,
em novo câmbio de substâncias nos vários
períodos da experiência física,
para garantir a segurança própria, sob
o ponto de vista material e energético.
Habituado aos fenômenos do anabolismo, na incorporação
dos elementos de que se nutre, e do catabolismo, na
desassimilação respectiva, automatiza-se-lhe
a existência, em metamorfose continua das forças
que lhe alcançam a máquina fisiológica,
através dos alimentos necessários à
restauração constante das células
e ao equilíbrio dos reguladores orgânicos.
INICIO
DA MENTOSSÍNTESE - Erguido, porém, A geração
do pensamento ininterrupto, altera-se-lhe,
na individualidade, o modo particular de ser.
O principio inteligente inicia-se, desde então,
nas operações que classificaremos como
sendo de "mentossíntese", porque baseadas
na troca de fluidos mentais multiformes, através
dos quais emite as próprias idéias e radiações,
assimilando as radiações e idéias
alheias.
O impulso que lhe surgia na mente embrionária,
por interesse acidental de posse, ante a necessidade
de alimento esporádico, é agora desejo
consciente. E, sobretudo, o anseio genésico instintivo
que se lhe sobrepunha à vida normal, em períodos
certos, converteu-se em atração afetiva
constante.
Aparece, assim, a sêde de satisfação
invariável como estimulo à experiência
e prefigura-se-lhe nalma a excelsitude do amor encravado
no egoísmo, como o diamante em formação
no carbono obscuro.
A morte física interrompe-lhe as construções
no terreno da propriedade e do afeto e a criatura humana,
a iniciar-se no pensamento continuo, sente-se quebrada
e aflita, cada vez que se desvencilha do corpo carnal
adulto.
A liberação da veste densa impõe-lhe
novas condições vibratórias, como
que obrigando-o a ocultação temporária
entre os seus para que se lhe revitalizem as experiências,
qual ocorre à planta necessitada de poda para
exaltar-se em renovação do próprio
valor.
Épocas numerosas são empregadas para que
o homem senhoreie o corpo espiritual, nos círculos
da consciência mais ampla, porque, como deve compreender
por si o caminho em que se conduzirá para a Glória
Divina, cabe-lhe também debitar a si mesmo os
bens e os males e as alegrias e as dores da caminhada.
Arrebatado aos que mais ama e ainda incapaz de entender
a transformação da paisagem doméstica
de que foi alijado, revolta-se comumente contra as novas
lições da vida a que é convocado,
em piano diferente, e permanece fluidicamente algemado
aos que se lhe afinam com o sangue e com os desejos,
comungando-lhes a experiência vulgar.
Nesse sentido, será, pois, razoável recordar
que em seu recuado pretérito aprendeu, automaticamente,
a respirar e a viver, justaposto ao hausto e ao calor
alheios.
SIMBIOSE
ÚTIL - Revisemos, assim, a simbiose entre os
vegetais, como, por exemplo, a que existe entre o cogumelo
e a alga, na esfera dos liquens, em que as hifas ou
filamentos dos cogumelos se intrometem nas gonídias
ou células das algas e projetam-lhes no interior
certos apêndices, equivalendo a complicados haustórios,
efetuando a sucção das matérias
orgânicas que a alga elabora por intermédio
da fotossíntese.
0 cogumelo empalma-lhe a existência, todavia,
em compensação, a alga se revela protegida
por ele contra a perda de água, e dele recolhe,
por absorção permanente, água e
sais minerais, gás carbônico e elementos
azotados, motivo pelo qual os liquens conseguem superar
as maiores dificuldades do meio.
Entretanto, o processo de semelhante associação
pode estender-se em ocorrências completamente
novas. É que se dois liquens, estruturados por
diferentes cogumelos, se encontram, podem viver, um
ao lado do outro, com talo comum, pelo fenômeno
da parabiose ou união natural de indivíduos
vivos.
Dessa maneira, a mesma alga pode produzir liquens diversos
com cogumelos variados, podendo também suceder
que um líquen se transfigure de aspecto, quando
uma espécie micológica se sucede à
outra.
Julgava-se antigamente, na botânica terrestre,
que os liquens participassem do grupo das criptogâmicas,
mas Schwendener incumbiu-se de salientar-lhes a existência
complexa, e Bonnier e Bornet, mais tarde, chamaram a
si a obrigação de positivar-lhes a simbiose,
experimentando a cultura independente de ambos os elementos
integrantes, cultura essa que, iniciada no século
findo, somente nos tempos últimos logrou pleno
êxito, evidenciando, porem, que a vida desses
mesmos componentes, sem o ajuste da simbiose, é
indiscutivelmente frágil e precária.
Outro exemplo de agregação da mesma natureza
vamos encontrar em certas plantas leguminosas que guardam
os seus tubérculos nas raízes, cujas nodosidades
albergam determinadas bactérias do solo que realizam
a assimilação do azoto atmosférico,
processo esse pelo qual essas plantas se fazem preciosas
à gleba, devolvendo-lhe o azoto despendido em
serviço.
SIMBIOSE
EXPLORADORA - Contudo, alem desses fenômenos em
que a simbiose é simples e útil, temos
as ocorrências desagradáveis, como sejam
as micorrizas das orquidáceas, em que o cogumelo
comparece como sendo invasor da raiz da planta, caso
esse em que a planta assume atitude anormal para adaptar-se,
de algum modo, às disposições do
assaltante, encontrando, por vezes, a morte, quando
persiste esse ou aquele excesso no conflito para a combinação
necessária.
Nesse acontecimento, como assinalou Caullery, com justeza
de conceituação, tal simbiose deve ser
capitulada na patologia comum, por enquadrar-se perfeitamente
ao parasitismo.
Identificaremos, ainda, a simbiose entre algas e animais,
em que as algas se alojam no plasma das células
que atacam, como acontece a protozoários e esponjas,
turbelários e moluscos, nos quais se implantam,
seguras.
SIMBIOSE
DAS MENTES Semelhantes processos de associação
aparecem largamente empregados pela mente desencarnada,
ainda tateante, na existência alem-túmulo.
Amedrontada perante o desconhecido, que não consegue
arrostar de pronto, vale-se da receptividade dos que
lhe choram a perda e demora-se colada aos que mais ama.
E qual cogumelo que projeta para dentro dos tecidos
da alga dominadores apêndices, com os quais lhe
suga grande parte dos elementos orgânicos por
ela própria assimilados, o Espírito desenfaixado
da veste física lança habitualmente, para
a intimidade dos tecidos fisiopsicossomáticos
daqueles que o asilam, as emanações do
seu corpo espiritual, como radículas alongadas
ou sutis alavancas de força, subtraindo-lhes
a vitalidade, elaborada por eles nos processos da biossíntese,
sustentando-se, por vezes, largo tempo, nessa permuta
viva de forças.
Qual se verifica entre a alga e o cogumelo, a mente
encarnada entrega-se, inconscientemente, ao desencarnado
que lhe controla a existência, sofrendo-lhe temporariamente
o domínio até certo ponto, mas, em troca,
à face da sensibilidade excessiva de que se reveste,
passa a viver, enquanto perdure semelhante influencia,
necessariamente protegida contra o assalto de forças
ocultas ainda mais deprimentes. Por esse motivo, ainda
agora, em plena atualidade, encontramos os problemas
da mediunidade evidente, ou da irreconhecida, destacando,
a cada passo, inteligências nobres intimamente
aprisionadas a cultos estranhos, em matéria de
fé, as quais padecem a intromissão de
idéias de terror, ante a perspectiva de se afastarem
das entidades familiares que lhes dominam a mente através
de palavras ou símbolos mágicos, com vistas
a falaciosas vantagens materiais. Essas inteligências
fogem deliberadamente ao estudo que as libertaria do
cativeiro interior, quando não se mostram apáticas,
em perigosos processos de fanatismo, inofensivas e humildes,
mas arredadas do progresso que lhes garantiria a renovação.
HISTERIA
E PSICONEUROSE - Entretanto, as simbioses dessa espécie,
em que tantas existências respiram em reciprocidade
de furto psíquico, não se limitam aos
fenômenos desse teor, nos quais Espíritos
desencarnados, estanques em determinadas concepções
religiosas, anestesiam ou infantilizam temporariamente
consciências menos aptas ao autocontrole, porquanto
se expressam igualmente nas moléstias nervosas
complexas, como a histero-epilepsia, em que o paciente
sofre o espasmo tônico em opistótono, acompanhado
de convulsões clônicas de feição
múltipla, às vezes sem qualquer perda
de consciência, equivalendo a transe mediúnico
autentico, no qual a personalidade invisível
se aproveita dos estados emotivos mais intensos para
acentuar a própria influenciação.
E, na mesma trilha de ajustamento simbiótico,
somos defrontados na Terra, aqui e ali, pela presença
de psiconeuróticos da mais extensa classificação,
com diagnose extremamente difícil, entregues
aos mais obscuros quadros mentais, sem se arrojarem
à loucura completa.
Tais entidades, imanizadas ao painel fisiológico
e agregadas a ele sem o corpo de matéria mais
densa, vivem assim, quase sempre por tempo longo, entrosadas
psiquicamente aos seus hospedadores, porquanto o Espírito
humano desencarnado, erguido a novo estado de consciência,
começa a elaborar recursos magnéticos
diferenciados, condizentes com os impositivos da própria
sustentação, tanto quanto, no corpo terrestre,
aprendeu a criar, per automatismo, as enzimas e os hormônios
que lhe asseguravam o equilíbrio biológico,
e, impressionando paciente que explora, muita vez com
a melhor intenção, subjuga-lhe o campo
mental, impondo-lhe ao centro coronário a substância
dos próprios pensamentos, que a vítima
passa a acolher qual se fossem os seus próprios
Assim, em perfeita simbiose, refletem-se mutuamente,
estacionários ambos no tempo, ate que as leis
da vida lhes reclamem, pela dificuldade ou pela dor,
a alteração imprescindível.
OUTROS
PROCESSOS SIMBIÓTICOS - Deoutras vezes, o desencarnado
que teme as experiências do Mundo Espiritual ou
que insiste em prender-se por egoísmo aos que
jazem na retaguarda, se possui inteligência mais
vasta que a do hospedeiro, inspira-lhe atividade progressiva
que resulta em benefício do meio a que se vincula,
tal como sucede com a bactéria nutrificadora
na raiz da leguminosa.
Noutras circunstancias, porém, efetua-se a simbiose
em condições infelizes, nas quais o desencarnado
permanece eivado de ódio ou perversidade enfermiça
ao pé das próprias vitimas, inoculando¬<O:P>
lhes fluidos letais, seja copiando a ação
do cogumelo que se faz verdugo da orquídea, impulsionando-a
a situações anormais, quando não
lhe impõe lentamente a morte, seja reproduzindo
a atitude das algas invasoras no corpo dos anelídeos,
conduzindo-os a longas perturbações, fenômenos
esses, no entanto, que capitularemos, com apontamentos
breves, em torno do vampirismo, como responsável
por vários distúrbios do corpo espiritual
a se estamparem no corpo físico.
ANCIANIDADE
DA SIMBIOSE ESPIRITUAL - Justo, assim, registrar que
a simbiose espiritual permanece entre os homens, desde
as eras mais remotas, em multifários processos
de mediunismo consciente ou inconsciente, através
dos quais os chamados "mortos", traumatizados
ou ignorantes, fracos ou indecisos, se aglutinam, em
grande parte, ao "habitat" dos chamados "vivos",
partilhando-lhes a existência, a absorver-lhes
parcialmente a vitalidade, até que os próprios
Espíritos encarnados, com a forca do seu próprio
trabalho, no estudo edificante e nas virtudes vividas,
lhes ofereçam material para mais amplas meditações,
pelas quais se habilitem à necessária
transformação com que se adaptem a novos
caminhos e aceitem encargos novos, à frente da
evolução deles mesmos, no rumo de esferas
mais elevadas.
(Evolução
em Dois Mundos, cap. XIV, André Luiz/Chico Xavier/Waldo
Vieira, FEB)