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Para
que ele seguisse a carreira eclesiástica, puseram-
no a aprender latim com o vigário Lassalle. Aí
Flammarion conheceu o Novo Testamento e a Oratória.
Em pouco tempo estava lendo os discursos de Massilon e
Bonsuet. O padre Mirbel falou da beleza da ciência
e da grandeza da Astronomia e mal sabia que um de seus
auxiliares lhe bebia as palavras. Esse auxiliar era Camille
Flammarion, aquele que iria ilustrar a letra e a significação
galo- romana do seu nome -- Flammarion: "Aquele que
leva a luz".
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Nas
aulas de religião era ensinado que uma só
coisa é necessária: "a salvação
da alma", e os mestres falavam: "De que serve
ao homem conquistar o Universo se acaba perdendo a alma?".
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Foi
dura a vida dos Flammarions, e Camille compreendeu o mérito
de seu pai entregando tudo aos credores. Reconhecia nele
o mais belo exemplo de energia e trabalho, entretanto,
essa situação levou- o a viver com poucos
recursos.
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Camille,
depois de muito procurar, encontrou serviço de
aprendiz de gravador, recebendo como parte do pagamento
casa e comida. Comia pouco e mal, dormia numa cama dura,
sem o menor conforto; era áspero o trabalho e o
patrão exigia que tudo fosse feito com rapidez.
Pretendia completar seus estudos, principalmente a matemática,
a língua inglesa e o latim. Queria obter o bacharelado
e por isso estudava sozinho à noite. Deitava- se
tarde e nem sempre tinha vela. Escrevia ao clarão
da lua e considerava- se feliz. Apesar de estudar à
noite, trabalhava de 15 a 16 horas por dia. Ingressou
na Escola de desenho dos frades da Igreja de São
Roque, a qual freqüentava todas as quintas- feiras.
Naturalmente tinha os domingos livres e tratou de ocupá-los.
Nesse dia assistia as conferências feitas pelo abade
sobre Astronomia. Em seguida tratou de difundir as associações
dos alunos de desenho dos frades de São Roque,
todos eles aprendizes residentes nas vizinhanças.
Seu objetivo era tratar de ciências, literatura
e desenho, o que era um programa um tanto ambicioso.
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Aos
16 anos de idade, Camille Flammarion foi presidente da
Academia, a qual, ao ser inaugurada, teve como discurso
de abertura o tema "As Maravilhas da Natureza".
Nessa mesma época escreveu "Cosmogonia Universal",
um livro de quinhentas páginas; o irmão,
também muito seu amigo, tomou- se livreiro e publicava-
lhe os livros. A primeira obra que escreveu foi "O
Mundo antes da Aparição dos Homens",
o que fez quando tinha apenas 16 anos de idade. Gostava
mais da Astronomia do que da Geologia. Assim era sua vida:
passar mal, estudar demais, trabalhar em exagero.
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Um
domingo desmaiou no decorrer da missa, por sinal, um desmaio
muito providencial. O doutor Edouvard Fornié foi
ver o doente. Em cima da sua cabeceira estava um manuscrito
do livro "Cosmologia Universal". Após
ver a obra, achou que Camille merecia posição
melhor. Prometeu- lhe, então, colocá-lo
no Observatório, como aluno de Astronomia. Entrando
para o Observatório de Paris, do qual era diretor
Levèrrier, muito sofreu com as impertinências
e perseguições desse diretor, que não
podia conceber a idéia de um rapazola acompanhá-lo
em estudos de ordem tão transcendental.
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Retirando-
se em 1862 do Observatório de Paris, continuou
com mais liberdade os seus estudos, no sentido de legar
à Humanidade os mais belos ensinamentos sobre as
regiões silenciosas do Infinito. Livre da atmosfera
sufocante do Observatório, publicou no mesmo ano
a sua obra "Pluralidade dos Mundos Habitados",
atraindo a atenção de todo o mundo estudioso.
Para conhecer a direção das correntes aéreas,
realizou, no ano de 1868, algumas ascensões aerostáticas.
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Pela
publicação de sua "Astronomia Popular",
recebeu da Academia Francesa, no ano de 1880, o prêmio
Montyon. Em 1870 escreveu e publicou um tratado sobre
a rotação dos corpos celestes, através
do qual demonstrou que o movimento de rotação
dos planetas é uma aplicação da gravidade
às suas densidades respectivas. Tornando- se espírita
convicto, foi amigo pessoal e dedicado de Allan Kardec,
tendo sido o orador designado para proferir as últimas
palavras à beira do túmulo do Codificador
do Espiritismo, a quem denominou "o bom senso encarnado".
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Suas
obras, de uma forma geral, giram em torno do postulado
espírita da pluralidade dos mundos habitados e
são as seguintes: "Os Mundos Imaginários
e os Mundos Reais", "As Maravilhas Celestes",
"Deus na Natureza", "Contemplações
Científicas", "Estudos e Leitura sobre
Astronomia", "Atmosfera", "Astronomia
Popular", "Descrição Geral do
Céu", "O Mundo antes da Criação
do Homem", "Os Cometas", "As Casas
Mal- Assombradas", "Narrações
do Infinito", "Sonhos Estelares", "Urânia",
"Estela", "O Desconhecido", "A
Morte e seus Mistérios", "Problemas Psíquicos",
"O Fim do Mundo" e outras.
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Camille
Flammarion, segundo Gabriel Delanne, foi um filósofo
enxertado em sábio, possuindo a arte da ciência
e a ciência da arte. Flammarion--"poeta dos
Céus", como o denominava Michelet -- tornou-
se baluarte do Espiritismo, pois, sempre coerente com
suas convicções inabaláveis, foi
um verdadeiro idealista e inovador.