Ouço EL ALMA ESPAÑOLA, de Marcelo Batista, composição
de sua alta maestria musical e fico encantado, principalmente
com o maravilhoso desempenho com a harmônica de boca.
Imagino se existe alguém que domine ainda mais esse
instrumento pequeno e de tantos e variados recursos. Parece-me
que Marcelo Batista, um eterno apaixonado pela música,
alcança o grau maior, num mimetismo impressionante,
corpo e alma inteiramente mergulhados nas harmonias e ritmos.
Nunca vi ou ouvi alguém fazer coisa igual, algo como
um transe sensacional. Músico e instrumento, sentimentos
e musicalidade, tudo num todo de se extasiar, uma unidade
que não se desfaz da primeira à última
nota. Uma só alma transformando minutos em eternidade,
como se o tempo deixasse de existir, uma vida pequena pra
extravasar sentimentos e amores recônditos e transparentes
ao mesmo momento. Só a paixão, a entrega total,
a vivência contínua com a arte e o instrumento
poderiam fazer de Marcelo o gênio que fez.
EL
ALMA ESPAÑOLA evoca séculos de experiência
humana, individual e coletiva, num perpassar de paixões
inolvidáveis que dilaceram e constróem os sentimentos
humanos, numa costura de visões e sons atávicos
de nunca se acabar. EL ALMA ESPAÑOLA é o grito
da raça ibérica, orgulhosa mescla de celtas,
godos, suevos, vândalos, e até de fenícios
e gregos do passado, ou de árabes de sete séculos
de conquista. É um anúncio e prenúncio
de guerras, sangrentas batalhas, coloridas de sangue e areia
de heroísmos, ataques e contra-ataques, trincheiras,
avanços de cavalaria. É o percorrer de exércitos
em densas florestas, vadeando rios que descem em cascatas
ou remansam planícies, em definitivas buscas do mar
grande.
EL
ALMA ESPAÑOLA é Catalunha, é Andaluzia,
é Valência, Castela Velha e Nova; é muito
Sevilha e Madrid, Córdova e Guadalajara. É um
alento e um suspiro de lindas malaguenhas, faceiras e formosas.
Imagino
a imaginação de Marcelo Batista formulando idéias
para a composição de EL ALMA ESPAÑOLA.
Imagino a intensa alegria de uma volta espiritual ao cadinho
de misturas raciais, que poucos povos no mundo conseguiram
ter. Sinto com Marcelo a sua alma celtibera, mística,
envolvente de amores e de lutas, menestrel de todas as harmonias
e cantos em caminhos e descaminhos banhados pelo Guadiana
e pelo Ebro, rios também da minha preferência.
Imagino a alma andalusa de Marcelo viajando para encontro
com as doces morenas queimadas de sol, nos vinhedos e laranjais
imenos, cada qual mais envolvente nos quentes ritmos das castanholas.
Imagino o pagem ou o cavaleiro andante, vassalo ou grão-senhor
de todas as montanhas iluminadas de beleza e de ventos tão
rápidos como os ginotes da conquista arábica,
ou tão fortes como os elmos germânicos das falanges
de Ruberico.
EL
ALMA ESPAÑOLA em a densidade dos trigais maduros, a
força do verde lindo dos canaviais, a destreza macha
dos rebanhos monteses de Espanha. Tem o vermelho da terra
e das alvenarias, tem o azul marcante dos céus de toda
a península. EL AMA ESPAÑOLA é dia e
é noite de festa. Tem o barulho das carruagens e o
tinir das espadas. É gelo e é fogo ao mesmo
harmonizar de sons. EL ALMA ESPAÑOLA é valentia
dos homens e é carinho das mulheres, doces mulhers
do Minho e do Douro. É guerra e é paz, dicotomia
infinita da alma gitana, espanhóis ciganos de sentimentos
nobres.
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