O
homem e a arte
Wanderlino
Arruda
Elevada
contemplação espiritual por parte das criaturas,
a arte é a exteriorização do ideal, uma
divida manifestação do que há de mais
belo na alma humana, polarização mais importante
da vida. De todas as riquezas da civilização,
a maior realização artística, seja ela
primitiva, incipiente, ou nos mais elevados estágios
da perfeição, produto de maturidade individual
ou coletiva. O artista verdadeiro é sempre o intermediário
das belezas eternas. O seu trabalho, em todos os tempos, foi
o portador das harmonias mais vibráteis do sentimento,
alçando-as ao infinito, abrindo caminhos para a sabedoria,
para a paz e para o amor. Missionário da busca estética,
do belo, do harmonioso, o artista é o traço
de ligação entre o cognitivo e o racional para
o sentimento e a emoção, engrandecendo a trajetória
do homem na terra.
O homem não teria chegado ao estágio evolutivo
em que se encontra não fosse o anseio de busca da perfeição
artística, não fossem as tentativas de materializar
o sentimento através da arte. Mesmo quando procura
realizar o pragmático, o utilitário, não
se pode deixar de lado o elemento estético, o agrado
ao ideal de beleza de cada um, seja para o autor, seja para
o usuário, seja para um possível espectador.
A beleza é necessária, importante. É
o complemento que satisfaz, que dá a sensação
de prazer, o resultante emocional de floração
da alegria do viver. O que o homem moderno chama de bom acabamento
nada mais é do que o toque artístico, a experiência
artesanal espontânea ou convencionada para preencher
o vazio de satisfação que a técnica só
não pode ocupar.
O artista, de modo geral, vive mais no plano do ideal, quase
sempre numa esfera de interesse distante do homem comum. Seu
psiquismo é sempre resultante do mundo íntimo,
numa espécie de recordação atávica,
como que portador de visões que procura materializar,
trazendo o sublime para o plano das sensações
humanas.
Às vezes, longe do convencionalismo, mantém-se
o artista acima dos preconceitos de sua época, salientando-se
numa indisciplina, afastando-se dos conceitos do dia-a-dia,
rasgando véus só detectáveis para faixas
sensoriais mais vibráteis. Quando o artista observa
um comportamento normal, sem afastar-se demasiadamente dos
padrões estabelecidos, quando ele consegue viver e
conviver no seu meio social, de modo útil e proveitoso,
encontra, aí, o ponto desejável da perfeição
humana. Acompanha o progresso, sintetiza o pensamento da sua
época, concentra o desejo subconsciente de todos, dá
vida e corporificação à alma coletiva.
O artista é, pois um diplomata da beleza e do sentimento.
É ele o instrumento que escreve, que grava, que harmoniza
o ideal de sua geração, do que dá força
infinita às consciências. É por isso que
no mundo nenhum povo pode viver sem seus artistas. A arte
é o equilíbrio, é a ponte maravilhosa
que liga a criatura ao criador, ao meio do caminho que contrasta
a passagem da Terra com o Céu.
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