Como
acabar com uma idéia
Wanderlino
Arruda
Claro
que existem mil maneiras de acabar com uma idéia, sepultá-la,
dispô-la em justo e eterno esquecimento, principalmente
se essa idéia não for do interesse ou do agrado
de quem tenha, no momento, o poder de decisão. Praticamente,
todo presidente de reunião ou assembléia sabe
disso, todo dirigente tem até uma fórmula de
solução para cada caso, quando isso lhe é
de seu desejo. Assim, matar uma idéia nunca é
difícil, não dá trabalho, basta um pouquinho
de má vontade. O que é difícil é
criar, construir, elaborar, fazer alguma coisa de útil,
beneficamente social, favorável a todos os interessados,
ajustável à famosa prova quádruplo de
que o Rotary Clube gosta tanto de divulgar em todo o mundo,
em todas as línguas: “É a verdade? É
justo? Criará boa vontade e melhores amizades? Será
benéfico para todos?”.
Matar uma idéia é realmente fácil, nem
precisa muita inteligência ou muitos argumentos para
isso. Até os menos dotados de raciocínio conseguem.
Qualquer um desses falsos líderes de qualquer campo
de atividade consegue, principalmente nos chamados grupos
de trabalho, nas famosas comissões, nos comitês.
Com os novos ricos, então, é que tudo fica aplainado
para uma derrota, já que eles, querendo tudo poder,
acabam não podendo nada e mergulhando num terrível
fracasso. Os políticos que superestimam seu poder de
fogo, que se julgam grandes, que tudo fazem para aparecer,
esses coitados, dão até pena, principalmente
os que se vendem por um emprego ou uma representação.
Uns que trocam de partido todo dia, que vivem como baratas
tontas à procura de migalhas de prestígio ou
de dinheiro, espécie de procuradores de partes, esses
são verdadeiros sepultadores de idéias, vendilhões
do templo de qualquer era.
Quem deseja acabar com uma idéia não precisa
fazer muito esforço, não precisa suar a camisa,
pode ser até um grande perdedor, um fracasso na vida
em qualquer situação. Quem precisa sustentar
idéias alheias quando as suas nunca chegam ao alvo
vitorioso? Melhor que todos fracassem, que todos percam, que
a ilusão seja geral, porque assim ninguém supera
ninguém, fica tudo do mesmo nível. Afinal há
o mundo dos que vencem e o mundo dos que só perdem,
que nunca encontram uma vitória. Há o mundo
dos que acreditam e há o mundo dos que invejam, que
ambicionam, dos que sempre são dependentes de outrem
pelo poder ou pelo dinheiro, esse o mundo dos vendidos, dos
alugados mesmo que seja por pouco tempo. Um pobre mundo de
pobres sonhos...
“Isso não me anima nem um pouco”. “É
complicado demais”. “Isso não está
de acordo com as coisas que a gente faz aqui”. “Não
é possível, e pronto”. “Todo mundo
vai dizer que somos uns idiotas”, (e às vezes
são mesmo!). “Este é um assunto para outra
reunião”. “Isso não se adapta à
nossa filosofia”. “Em time que está ganhando
não se mexe”. “Eu já vi essa história
antes”. “Não vem que não tem”.
“Não vai funcionar”. “Ninguém
vai entender sobre o que você está falando”.
“Esse é outro lado da história”.
“Eu tenho uma idéia melhor”.
“VAMOS FORMAR UM GRUPO DE TRABALHO”. Isso mesmo,
“vamos formar um grupo de trabalho”, é
a melhor forma, às vezes, de acabar com uma idéia,
principalmente quando esse grupo é uma comissão
de inquérito para fiscalização de gente
de muita ambição.
De todas as formas para acabar com uma idéia a mais
decisiva é a formação do grupo de trabalho,
de certos tipos de blocos. Nomear uma comissão é
tiro e queda! Não há sugestão que fique
de pé, que tenha andamento, quando o presidente de
uma comissão for o próprio autor da idéia.
Os coordenadores de reuniões sabem disso: quando alguém
fala muito, dá muito palpite, quer resolver de vez
todos os problemas da vida e do mundo, não precisa
muita coisa para provocar silêncio, basta uma nomeação
de presidência para dirigir outras pessoas. Quase sempre
morre o grupo e sucumbe o ideal.
Construir é que é difícil.
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