Eliana
Mora
Uma
quase Ode aos meus sentidos
O meu batismo é de água-benta
do meu ventre
os meus afetos de menina movem mundos
sedutores
estacionam na placenta que ficou
rasgada aqui
somente à espera de um ato
inconseqüente
Como sair do emaranhado de tecidos
subir em lava
e chamuscar asas sentidos
no mato chucro irrefreável
de um desejo
vestir o manto verdadeiro dos perigos
Olhar o mundo de vaidades
e incertezas
sem ter em os olhos tão fechados
umas ilhas
e expurgar certos momentos
que parecem centenários
uns simples falos
meras dúvidas perdidas
Se vou grudar a algo a pele bela
e alva
bendita pele que se dá ao
sol com medo
que seja em ti ó deus pirata
bailarino dos amores
do ventre livre da tortura
dos Senhores
Mas se acasale aos trapos vívidos
qual selo
e se embriague em água benta
de fascínios
para partir um pouco antes de mudar
o meu destino
que parte minha a divina
florirá
________________________________________________
Desafio
aos cientistas de plantão
Uma
liga de cimento e cal
poderia estar no lugar de minhas
veias
e um líquido explosivo
resistente
complacente e vivo
seria um sangue novo
alternativo
E
eu seria uma cobaia de mim mesma
a observar
se aquele círculo de fogo
saberia
resistir
Ou
encontrar alguma fórmula
ideal
de retirar de mim
aquela velha dor
Sem
colorir meu chão de tinta
rubra
Faquir
cego
Sozinha
semeando meu jejum
permaneci durante anos
sem reparar
que cada dia
representava um prego a mais
na mesa do faquir
Sem ti
Sou chama
aquela
que não precisou da fricção de dois gravetos
para arder
Inútil pas-de-deux
Olhar na direção
de um outro mundo
engordar com muita reza mais um deus
imundo
pedinte e comilão
temer
e ainda assim enaltecer
um pas-de-deux profundo
com estréia programada
em tua alma
sem modelos e desejos de alforria
espada de profeta
távola concreta
excalibur
mapas
minas e metas a cumprir
cansaço
apenas a pedir um tempo a mais
em meio a tuas faltas
sem sinais
Cegueira
meu corpo
em luz
parece flutuar
como garrafa transparente
em pleno mar
inchada
grávida
de bilhete antigo
para amor
que nem lê
mais.
Destino
especial
Lanternas invisíveis
prateadas
derramam rastros
pelas frestas
das janelas
o que me leva
sem querer
a imaginar
o que faria
se estivesse
dentro
delas
podia abri-las
e nos rastros pendurar
uma escada
um fio só
de algumas pérolas
e pendurar-me
até o
espaço
alcançar
para viver
uma-ventura
em outras
terras