Educai
a criança
Guerra Junqueiro
Um coração
de criança
É uma urna de amor, de inocência e esperança.
É um jasmin em botão de imácula pureza
Perfumando o jardim do Amor e da Beleza.
É uma flor aromal.
Uma Ave pequenina,
Que nos recorda a luz puríssima, inicial
Da morada divina!
Mas a alma infantil, como leiva de terra.
Guarda, cria e produz aquilo que ela encerra!
Coração original, terra pura e inocente
Que desenvolve em si a boa e má semente.
Se lhe deres o Amor que salva e regenera,
A esperança no Céu que se resigna e espera,
Os exemplos do Bem que esclarece e ilumina,
Os archotes da Fé que sonha e raciocina.
A lição do Evangelho em atos de bondade,
Os perfumes liriais da flor da Caridade.
A verdade, a Luz e o Amor - a trilogia
Que compõe no Universo os hinos da Harmonia
Vê-la-eis produzir dessas espigas d'ouro
De um dos trigais de abril imensamente louro.
Se lhe derdes, porém, as sementes do vício
Tereis o pantanal, a chaga, o meretrício,
A ferida social que sangra, que supura,
Os venenos letais da Dor e da Amargura!
Em vez do sol que aclara uma vida sublime,
Vereis a lava hostil que favorece o crime.
Educai, educai o coração da infância,
Roubai-o da torpeza do mal e da ignorância.
Plantai no coração dos pobres pequeninos
As árvores do Bem cheias de dons divinos...
Elevai-os na Terra aos píncaros da Luz,
Com os exemplos de Amor da vida de Jesus!
O coração da criança
É um sacrário de amor, de inocência e esperança.
Ponde nesse sacrário a hóstia que transude
A chama da Verdade e a chama da Virtude
E tereis praticado o ensino do Senhor
Que fará deste mundo um roseiral de Amor!
Poema psicografado
em 14 de julho de 1933, em Pedro Leopoldo. Dedicado a Júlio
Leitão