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A
bênção das lágrimas
Rubens
C. Romanelli
Bendita
a lágrima em que se cristaliza
o acervo atroz de nossas dores e
se dilui o negro fel de nossas mágoas.
Bendita a lágrima a cuja
tona flutuam farrapos sombrios de
sonhos dourados e em cujo fundo
vagueiam espectros tristonhos de
esperanças mortas.
Bendita a lágrima dos que
carpem a desdita de nascerem sem
teto e choram a desgraça
de viverem sem pão.
Bendita a lágrima dos que
jamais conheceram um afeto de mãe
e nunca provaram um carinho de espôsa.
Bendita a lágrima, desafôgo
amigo dos que são sós
e consôlo ardente dos que
são tristes.
Bendita a lágrima dos que
põem sôbre os ombros
a cruz de seu próximo e o
ajudam a escalar o calvário
da existência.
Bendita a lágrima dos que
buscam, errantes, o calor de um
afeto e sòmente encontram
o frio do desprêzo.
Bendita a lágrima dos que
sofrem injustiças pelos ideais
que defendem e só colhem
ingratidões pelo bem que
semeiam.
Bendita a lágrima que erige
no cérebro um templo à
Verdade e converte o coração
num sacrário de Amor.
Bendita a lágrima que aflora,
escaldante, nas noites do sofrimento
e esplende como um sol nas manhãs
da redenção.
Bendita, enfim, a lágrima,
gôta de luz das auroras celestes
e síntese terrena do orvalho
divino.
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