Vinicius
de Moraes
Inatingível
O
QUE SOU EU, gritei um dia para o
infinito
E o meu grito subiu, subiu sempre
Até se diluir na distância.
Um pássaro no alto planou vôo E
mergulhou no espaço.
Eu
segui porque tinha que seguir
Com as mãos na boca, em concha
Gritando para o infinito a minha
dúvida.
Mas
a noite espiava a minha dúvida
E eu me deitei à beira do caminho
Vendo o vulto dos outros que passavam
Na esperança da aurora.
Eu continuo à beira do caminho
Vendo a luz do infinito
Que responde ao peregrino a imensa
dúvida.
Eu
estou moribundo à beira do caminho.
O dia já passou milhões de vezes
E se aproxima a noite do desfecho.
Morrerei gritando a minha ânsia
Clamando a crueldade do infinito
E os pássaros cantarão quando o
dia chegar
E eu já hei de estar morto à beira
do caminho.