Wanderlino
Arruda
Eu me lembro muito bem de quando,
há alguns anos, a família
de Neliton chegava, em desespero,
ao São Lucas, depois
da notícia do acidente
de moto ocorrido com ele na
estrada de Janaúba. Muitas
luzes acesas na Avenida Geraldo
Athayde, muita gente, aquela
triste curiosidade de quem chega
e de quem passa. Uns diziam
que se tratava de um fotógrafo,
outros mais chegados sabiam
o nome de Neliton, outros ainda
mais próximos diziam
que era um irmão da professora
Neide Rodrigues Pimenta. Todos
lamentavam o acontecimento e
reprisavam a informação
de que Neliton era um motociclista
muito cuidadoso, bastante ponderado
para saber evitar qualquer acidente
de rua ou de estrada. “Estaríamos
diante de uma fatalidade?”
Todos perguntavam!
Passado muito tempo após
a borrasca de dor, a terna lembrança,
a doce saudade do amigo ainda
marcando uma humana e lamentada
ausência, acatada mas
nunca compreendida ou aceita,
principalmente por causa dos
vigilantes cuidados que o Neliton
tinha no dirigir e no dispor
da máquina e de sua força,
para ele um instrumento de condução
normal desde que em mãos
de pessoa sensata e não
apressada. Alguns meses depois,
recebi da Neide, minha colega
de magistério, um trabalho
do Neliton sobre motos e motociclistas,
frases destinadas a um concurso
promovido para a Revista Quatro
Rodas. “Pouco tempo antes
do acidente de que foi vítima,
ele nos telefonou do Foto para
nos pedir, a Baltazar e a mim,
um favor” – disse-me
Neide: “Ele queria sugestões
e quando veio buscar o que havíamos
feito, já trazia consigo
três slogans de um tal
Zé Gordo e muitas outras
frases de sua autoria”.
De Zé Gordo: “Duas
rodas, duas mãos e uma
consciência”. “Para
um equilíbrio perfeito,
duas rodas bastam”. “Duas
rodas bastam, quando há
cautela”. Do próprio
Neliton: “Motociclista,
todo cuidado é pouco”.
“Segurança nunca
é demais”. “Segurança
dobrada, acidentes evitados”.
“Motocando ou pedalando,
mas, sempre se cuidando”.
“Segurança... segurança...
como é bom!”. “Motociclista,
não vacile, não
abuse, não se invalide”.
“Motociclista, não
tenha pressa de morrer”.
“Cabeça inteligente,
cabeça protegia. Máquina,
quente, cabeça fria”.
“Motociclista, ligue-se
mais”. “Motociclista,
ultrapassar às vezes
é suicídio”.
“Farol aceso, uma idéia
luminosa”.
Aos slogans de Zé Gordo
e do Neliton, o professor Baltazar
Pimenta acrescentou estes: “Sua
moto não pensa, pense
por dois”. “Ser
livre é importante, mas...
vivo”. “Desfrute
de sua liberdade... de ser realmente
vivo”. “Agarre-se
ao guidão da vida, ao
guiar sua moto”. “Seja
vivo e permaneça vivo!
Não confunda liberdade
com velocidade”. “Fique
vivo! Corra da morte, andando
devagar”. “Na minha
moto eu corro muito, mas muito
mais... da morte”.
Anos depois das frases e da
passagem de Neliton para a vida
maior, bem seria que todos os
motociclistas redobrassem o
cuidado no amparo da própria
segurança. Como Neliton,
muitos outros já se foram,
também deixando saudades.
Que as frases do concurso do
Neliton, o excelente amigo,
o bom rapaz, não fiquem
em vão. Volte o leitor
a contá-las e repare
bem que os números já
não são mais somente
simbólicos; dão
muito o que meditar e fazer
nova tomada de consciência.
Quem quiser ter uma idéia
de número de acidentes
todos os dias, visita um pronto
socorro de qualquer hospital.
Que Deus proteja a todos nós,
principalmente aos motociclistas,
agora chamados de motoqueiros.
Instituto Histórico e
Geográfico de Montes
Claros